segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O VERME E A FRUTA

Fruta doce,
doce fruta,
exibia
nas alturas.

Bela árvore,
talhe esbelto,
perfumada
por suas flores.

Dança solta,
sensual,
ao sabor
do vento norte.

Animal,
cego e faminto,
atraído,
veio a ela

Parasita juvenil,
enroscar-se em seu talhe,
delitando-se em seu cerne
da bruta seiva e pueril

Mas a fruta,
doce fruta,
o rasteiro parasita
alcançar não conseguiu.

E morreu no vil intento,
quando soprou outro vento
seu sopro frio de inverno
tão implacável e são!

DESEJO

A carne
A fera
O verme
A espera

A fome
A saudade
A vontade
A sede

O sonho
O delirio
O só
e o uno

A lembrança
O retorno
O passado
e o presente

O encontro
revolto
de dois rios
caudalosos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

RESPOSTA

Estou aqui!
entra!
Desce,
sem medo,
a escada
da noite
escura
e secreta!

Volve:
a luz
do olhar
interior
descobre
a tua porta
eu quero entrar!

E
quando entrar
faz-me teu amigo
um só contigo
dois corações
num só pulsar!

SUSPIRO

Ardo!
Sou fogo do fogo,
água do céu,
grão da terra
ar que viaja!

Busco:
a rota perdida,
o ciclo etrno,
a vida infinda,
a casa paterna
e o seio materno!

Sinto:
saudade dorida,
preguiça que prende,
paixões que agitam
e a sede que mina

Ai!
Arrasta-me a ti,
retém -me em teus braços,
tornai-me escravo
do teu coração
pra que eu seja livre!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O ESTRANHO

I

Ali,
em seu mundo
absurdo,
absorto
estava ele.

Ao seu redor
ecoavam:
risos
sarcasmos
e desprezos.

"Com quem fala?"
"Vede, do que ri?"
"Olhem, que absurdo!"
Vamos, é perigoso!"

II

Triste é sofrer
sem poder exprimir
o tamanho da dor
que se está a sentir.

Triste é ter
um jardim in floratta
a seara chegada
e não ter outra alma
para dividí-los.

É estar em prisão
de uma porta aberta
chamar sem ser ouvido
e não poder sair!