domingo, 22 de abril de 2012

UMA PRECE À NOITE
Como é belo o silêncio da noite! Bendita criação, bendita treva precursora daquilo que espera o coração. Vem, oh dama, recolher-me em teus braços de abrigo, no teu leito balouçante, que balança à tua brisa! Canta as tuas cantigas na lascívia de tua voz ou na candura com que cantam as mães quando somos criancinhas. Aquieta a minha mente, traz sossego ao coração, consola com teus perfumes minha cansada razão. Deita aqui do meu lado, guarda -me em ti bem apertado até sermos um só E quando chegar o dia, a tua revelação, também vou transfigurar-me junto com a criação.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

VERSOS DE UMA SAUDADE!

Transborda de mim a saudade,
em versos efusivos,
de espaço que transborda do espaço
aumentando as distâncias.

Quero o bem que eu tinha,
não aquele que eu queria ter,
o bem idealizado
que se desvaneceu
com o Sol da verdade.

A luz deste Sol não traz certezas.
Traz a dúvida.
Traz alertas.
O que é certo?
O que é verdadeiro?

Reclama - me o Sol o meu olhar!
Nunca mais fitei meus olhos na beleza que não passa!
Nunca mais deixei que me enlevase,
que saciasse a minha alma!

Por isso vivo a morrer de sede,
cambaleando, ando a morrer de fome,
e delirando, busco vis ilusões,
que não preenchem esta metade.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

SUSPIROS DE UM PEREGRINO

Ando enfastiado deste alimento.
O Maná sacia o ventre,
mas não mata
a fome do coração.

Ando cansado
desta velha rotina,
de saciar estas feras
e arder com o sol.

Caminho atrasado,
sem ser pra ninguém
senão este óbvio
sinal do que devo.

Dormir
já não descansa meus olhos,
nem alivia minha mente,
tampouco o corpo pesado
que minhas pernas carregam.

Quero sair de mim,
ver novos horizontes
e encontrar ermida
onde possa hibernar!

Quero deixar na terra
esta figura velha;
o novo que é vindo
reclama que acabe
esta alongada espera!

QUISERA!

Quisera beijar-te até morrer,
em um êxtase branco,
numa sinestesia
que não se entende:
se vive.

Quisera sorver teu sabor devagarinho,
como quem sorve mel de bom néctar,
como quem toma bom vinho,
sem pressa de vida,
temores ou culpa.

Vivo a sofer de sede,
cambaleando de fome,
palpitando de saudades,
sentindo o frio daqueles
que já não têm abrigo.

Caminho por estrada
que não parece ter fim,
sem consolo, sem alento,
teimando na fé,
cultivando esperanças,
sonhando com o éden perdido.

Caminho como o peregrino do deserto,
em busca de um oásis,
delirando de saudades
no calor da solidão.

As vezes peço a Orfeu:
que me deixe nos sonhos,
que me prenda nos campos;
nos verdes campos
em que vivo contigo.

Quisera ficar para sempre
nos Campos Elísios
a sorver teu sabor devagarinho
como quem sorve mel de bom néctar,
como quem toma bom vinho,
sem pressa de vida,
temores ou culpa.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

POEMA CRÔNICO III - O CONTEMPLADOR DE TEMPESTADES

Sou o contemplador de tempestades,
tenho sempre os olhos cheios de encanto,
vejo beleza onde ninguém a enxerga,
tenho meu prazer em entender o "caos"!

Nem toda ordem é entendida por todos.
Nem todo mundo é entendido pela ordem.
Nem todo entendimento é alcançado
pela ordem de todos.

Eu vi a beleza daquela que passou,
senti a desordem que sua beleza me causou,
nasceu em mim o desejo de apreender
o mero reflexo que consegui captar.

Oh rica tempestade! Oh rico turbilhão!
O contemplador é feliz
porque nela encontra mil mundos,
mil ângulos, o todo,
as partes, os perfumes,
os sabores, os humores,as canções,
o ódio, os amores e as ilusões:
névoas, sombras, delírios, moções!

Na tempestade há mil portas
para quem sabe enxergar!
Triste é o míope que não quer,
o ceticista convencido
e os acometidos de normose.

Fiz amizade com o caos,
o traí e transformei-o em ordem.
Fiz amizade com a ordem
e ela me traiu me devolvendo o caos.

Na tempestade há mil vozes que conversam,
redes inúmeras que se conectam
buscando consenso,
acertando nexos,
possibilidades
novas e inéditas.

Falam mil línguas em completa harmonia,
mil idiomas, mil fonemas, mil gramáticas,
mil expressões que o ser do humus só percebe
porque lhe afagam com carinho os ouvidos.

Como é bom na tempestade ser pequenino.
Não é vergonhoso, na mão de Deus, ser um menino.
Como é bom subir, degrau por degrau,
colhendo as lições que nunca se acabam.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

CANTIGA SOBRE CERTAS COISAS DA VIDA

O verso de sempre.
A mesma questão.
A mesma doçura
enfastia a alma e
a mesma agrura
apela para a sanidade.

No caminho do deserto
suplico pelo maná.
Não sinto saudades do Egito,
sinto saudades do Eterno lar.

A mesma história,
o mesmo pesar,
ciclado,
reciclado,
contado
e recontado
desejo abandonar.

O mito que eu criei não existe,
é sonho que maltrata o coração,
existe em função do criador
que em versos imaginava suas formas.

Sou amigo de Jonas,
com ele vou pular no mar,
com ele vou ao ventre do peixe,
também desejo ressuscitar.

Na barriga do peixe
conversei com Bolaños:
o herói não ultrapassa limites,
o herói abre as suas janelas.

Serei o herói que devo,
o herói que posso
e o que mereço,
não o que esperam!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

CHAMADO

Depois da tormenta a calma.
Na calma o silêncio da eternidade,
que se revela no tempo
por uma ponte indelével.

Eis mais uma vez
um outro limiar,
da mesma espera
que sempre me pediu resposta.

De novo, o Amor Eterno,
que me deu esta marca,
bate à minha porta
com saudades de mim

me chamando à descer
quando quero subir,
me chamando a entrar,
a me reencontrar,
quando quero ficar

simplesmente a sentir a brisa,
a dormir no silêncio eterno,
no dia branco
puro da mácula
da tinta que escreve

a história dos homens,
imperfeitos, impuros,
santos e bons
assim como eu.

O que direi, Amor?!
Meu coração arde,
minha alma suspira,
sonha o meu espírito

com um mundo novo,
uma nova história,
com homens felizes,
com a tua glória,
tuas maravilhas!

Descerei contigo
mesmo tendo medo,
a escada secreta
da profunda notúrnia.

Uma só coisa te peço:
não largues a minha mão!

terça-feira, 3 de abril de 2012

LAMENTO DO LAMENTO, PARA LAMENTO ETERNO!

Pensando fazer o certo
eu errei.
Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
C'est la Vie, C'est la Vie.

Pensando ser impossível o possível,
deixei que os ventos de minha tormenta
virassem navios por onde o amor singrava
a trazer boas novas que eu não imaginava.

Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
Oh «béni» la vie,
Oh "bienheureux" chanceux.

Tornei complicado o que era tão simples,
vi névoas e noites ao meio - dia.
Vivi no passado sem ver o presente,
não li os indícios, fui incompetente.

Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
Oh «béni» la vie,
Oh "bienheureux" chanceux.

Voltou a temer quem antes queria.
Passou adiante quem ia ficar.
Na sua chegada queria uma festa
e só encontrou o carpido e o brado
de um egoísta que não sabe amar.

Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
Oh «béni» la vie,
Oh "bienheureux" chanceux.

Julgando não vir quem se anunciava,
dormi, não ouvi que lá fora chamava.
Quando despertei ia longe na estrada,
em certa altura que não me escutava.

Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
C'est la Vie, C'est la Vie.

domingo, 1 de abril de 2012

POEMA CRÔNICO II - IRONIA AOS MACÁRIOS DO OLIMPO TERRENO


Aonde está a felicidade?

Está no sorriso dos outros,
nas fotos alheias,
nas conquistas que não são minhas,
na grama do vizinho
que parece ser mais verde.

E o que é a felicidade?

Nesta terra um momento fulgaz,
talvez uma foto no facebook,
IBOPE bom sem nenhum cachê,
publicidade grátis!

Bem - aventurados os capazes de gargalhar,
Bem - aventurados os socialmente aceitos,
Bem - aventurados os normais,
porque estarão no número dos eleitos!

Bem - aventurados os filhos de Baco,
os de Eros e os de Afrodite,
Bem - Aventurados os "cabeça - aberta",
Bem - aventurado é quem não se incomoda
com aquele que morre pensando
estar fazendo a coisa certa.

Bem - aventurados os que só acreditam no agora,
os que perderam a esperança,
os pessimistas conformados,
e os consumistas de novidades
porque não serão criticados.

Bem - aventurados os marombados
e as gatas do corpo perfeito,
sem truques de Photoshop,
moldadas na academia,
talhadas a silicone.

Bem - aventurados os hedonistas,
os narcisistas, os egoístas,
os "puxa - sacos"
e os mercenários
financistas.

Bem - aventurados os donos do Capital,
os escravos do vil metal,
os políticos do bem - particular
e os senhores desta "vida feudal"!

Bem - aventurado o povo sem memória,
sem presente e sem passado,
que aceita o futuro
de não ser emancipado.

Bem - aventurados os que não enxergam
que o dia já vai alto,
que a terra nos pedirá contas
e a história virá buscar,
dos dons investidos,
o saldo.

Mas tristes serão estes Macários,
quando os filhos dos filhos de seus filhos,
sentados em seus tronos de juízes
perguntarem pelo bem que não fizeram,
perguntarem pelo Amor que não amaram
e negarem o legado que deixaram.