quarta-feira, 2 de maio de 2012

UM SONHO FEBRIL

Febre. Febre - da - tristeza. Convulsões frenéticas. Ânsias e suspiros. Vapores sobem ao ar infesto formando arabescos, docéis e platibandas, nichos e fachadas, portas e varandas. Arde. Arde até desfalecer. Falece. Falece até se esvair. Se esvai. Esvai até o precipício. De lá contempla os horizontes de um outro infinito. Um infinito interior. Interior infinito, de interno teor, teor insondável. Mar retirado, além - mar do além - mar ainda não cartografado, de línguas jamais ouvidas, porque puras e santas. Lá nesta terra foi deixado um coração de olhos nublados, que ainda espera na beira da praia o regresso da nau partida. Rosa selvagem. Filha sem mácula. Eva saudosa. Pássaro triste. Por entre as névoas sombra bisonha, qual a de um ébrio, toma contornos de vivo humano. E os olhos nublados raiam o dia, o dia esperado, ao verem nas formas do náufrago bêbado o amor esperado...

domingo, 22 de abril de 2012

UMA PRECE À NOITE
Como é belo o silêncio da noite! Bendita criação, bendita treva precursora daquilo que espera o coração. Vem, oh dama, recolher-me em teus braços de abrigo, no teu leito balouçante, que balança à tua brisa! Canta as tuas cantigas na lascívia de tua voz ou na candura com que cantam as mães quando somos criancinhas. Aquieta a minha mente, traz sossego ao coração, consola com teus perfumes minha cansada razão. Deita aqui do meu lado, guarda -me em ti bem apertado até sermos um só E quando chegar o dia, a tua revelação, também vou transfigurar-me junto com a criação.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

VERSOS DE UMA SAUDADE!

Transborda de mim a saudade,
em versos efusivos,
de espaço que transborda do espaço
aumentando as distâncias.

Quero o bem que eu tinha,
não aquele que eu queria ter,
o bem idealizado
que se desvaneceu
com o Sol da verdade.

A luz deste Sol não traz certezas.
Traz a dúvida.
Traz alertas.
O que é certo?
O que é verdadeiro?

Reclama - me o Sol o meu olhar!
Nunca mais fitei meus olhos na beleza que não passa!
Nunca mais deixei que me enlevase,
que saciasse a minha alma!

Por isso vivo a morrer de sede,
cambaleando, ando a morrer de fome,
e delirando, busco vis ilusões,
que não preenchem esta metade.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

SUSPIROS DE UM PEREGRINO

Ando enfastiado deste alimento.
O Maná sacia o ventre,
mas não mata
a fome do coração.

Ando cansado
desta velha rotina,
de saciar estas feras
e arder com o sol.

Caminho atrasado,
sem ser pra ninguém
senão este óbvio
sinal do que devo.

Dormir
já não descansa meus olhos,
nem alivia minha mente,
tampouco o corpo pesado
que minhas pernas carregam.

Quero sair de mim,
ver novos horizontes
e encontrar ermida
onde possa hibernar!

Quero deixar na terra
esta figura velha;
o novo que é vindo
reclama que acabe
esta alongada espera!

QUISERA!

Quisera beijar-te até morrer,
em um êxtase branco,
numa sinestesia
que não se entende:
se vive.

Quisera sorver teu sabor devagarinho,
como quem sorve mel de bom néctar,
como quem toma bom vinho,
sem pressa de vida,
temores ou culpa.

Vivo a sofer de sede,
cambaleando de fome,
palpitando de saudades,
sentindo o frio daqueles
que já não têm abrigo.

Caminho por estrada
que não parece ter fim,
sem consolo, sem alento,
teimando na fé,
cultivando esperanças,
sonhando com o éden perdido.

Caminho como o peregrino do deserto,
em busca de um oásis,
delirando de saudades
no calor da solidão.

As vezes peço a Orfeu:
que me deixe nos sonhos,
que me prenda nos campos;
nos verdes campos
em que vivo contigo.

Quisera ficar para sempre
nos Campos Elísios
a sorver teu sabor devagarinho
como quem sorve mel de bom néctar,
como quem toma bom vinho,
sem pressa de vida,
temores ou culpa.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

POEMA CRÔNICO III - O CONTEMPLADOR DE TEMPESTADES

Sou o contemplador de tempestades,
tenho sempre os olhos cheios de encanto,
vejo beleza onde ninguém a enxerga,
tenho meu prazer em entender o "caos"!

Nem toda ordem é entendida por todos.
Nem todo mundo é entendido pela ordem.
Nem todo entendimento é alcançado
pela ordem de todos.

Eu vi a beleza daquela que passou,
senti a desordem que sua beleza me causou,
nasceu em mim o desejo de apreender
o mero reflexo que consegui captar.

Oh rica tempestade! Oh rico turbilhão!
O contemplador é feliz
porque nela encontra mil mundos,
mil ângulos, o todo,
as partes, os perfumes,
os sabores, os humores,as canções,
o ódio, os amores e as ilusões:
névoas, sombras, delírios, moções!

Na tempestade há mil portas
para quem sabe enxergar!
Triste é o míope que não quer,
o ceticista convencido
e os acometidos de normose.

Fiz amizade com o caos,
o traí e transformei-o em ordem.
Fiz amizade com a ordem
e ela me traiu me devolvendo o caos.

Na tempestade há mil vozes que conversam,
redes inúmeras que se conectam
buscando consenso,
acertando nexos,
possibilidades
novas e inéditas.

Falam mil línguas em completa harmonia,
mil idiomas, mil fonemas, mil gramáticas,
mil expressões que o ser do humus só percebe
porque lhe afagam com carinho os ouvidos.

Como é bom na tempestade ser pequenino.
Não é vergonhoso, na mão de Deus, ser um menino.
Como é bom subir, degrau por degrau,
colhendo as lições que nunca se acabam.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

CANTIGA SOBRE CERTAS COISAS DA VIDA

O verso de sempre.
A mesma questão.
A mesma doçura
enfastia a alma e
a mesma agrura
apela para a sanidade.

No caminho do deserto
suplico pelo maná.
Não sinto saudades do Egito,
sinto saudades do Eterno lar.

A mesma história,
o mesmo pesar,
ciclado,
reciclado,
contado
e recontado
desejo abandonar.

O mito que eu criei não existe,
é sonho que maltrata o coração,
existe em função do criador
que em versos imaginava suas formas.

Sou amigo de Jonas,
com ele vou pular no mar,
com ele vou ao ventre do peixe,
também desejo ressuscitar.

Na barriga do peixe
conversei com Bolaños:
o herói não ultrapassa limites,
o herói abre as suas janelas.

Serei o herói que devo,
o herói que posso
e o que mereço,
não o que esperam!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

CHAMADO

Depois da tormenta a calma.
Na calma o silêncio da eternidade,
que se revela no tempo
por uma ponte indelével.

Eis mais uma vez
um outro limiar,
da mesma espera
que sempre me pediu resposta.

De novo, o Amor Eterno,
que me deu esta marca,
bate à minha porta
com saudades de mim

me chamando à descer
quando quero subir,
me chamando a entrar,
a me reencontrar,
quando quero ficar

simplesmente a sentir a brisa,
a dormir no silêncio eterno,
no dia branco
puro da mácula
da tinta que escreve

a história dos homens,
imperfeitos, impuros,
santos e bons
assim como eu.

O que direi, Amor?!
Meu coração arde,
minha alma suspira,
sonha o meu espírito

com um mundo novo,
uma nova história,
com homens felizes,
com a tua glória,
tuas maravilhas!

Descerei contigo
mesmo tendo medo,
a escada secreta
da profunda notúrnia.

Uma só coisa te peço:
não largues a minha mão!

terça-feira, 3 de abril de 2012

LAMENTO DO LAMENTO, PARA LAMENTO ETERNO!

Pensando fazer o certo
eu errei.
Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
C'est la Vie, C'est la Vie.

Pensando ser impossível o possível,
deixei que os ventos de minha tormenta
virassem navios por onde o amor singrava
a trazer boas novas que eu não imaginava.

Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
Oh «béni» la vie,
Oh "bienheureux" chanceux.

Tornei complicado o que era tão simples,
vi névoas e noites ao meio - dia.
Vivi no passado sem ver o presente,
não li os indícios, fui incompetente.

Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
Oh «béni» la vie,
Oh "bienheureux" chanceux.

Voltou a temer quem antes queria.
Passou adiante quem ia ficar.
Na sua chegada queria uma festa
e só encontrou o carpido e o brado
de um egoísta que não sabe amar.

Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
Oh «béni» la vie,
Oh "bienheureux" chanceux.

Julgando não vir quem se anunciava,
dormi, não ouvi que lá fora chamava.
Quando despertei ia longe na estrada,
em certa altura que não me escutava.

Pensando não ter, tinha,
e perdi sem poder ter.
Outra vez, outra vez,
C'est la Vie, C'est la Vie.

domingo, 1 de abril de 2012

POEMA CRÔNICO II - IRONIA AOS MACÁRIOS DO OLIMPO TERRENO


Aonde está a felicidade?

Está no sorriso dos outros,
nas fotos alheias,
nas conquistas que não são minhas,
na grama do vizinho
que parece ser mais verde.

E o que é a felicidade?

Nesta terra um momento fulgaz,
talvez uma foto no facebook,
IBOPE bom sem nenhum cachê,
publicidade grátis!

Bem - aventurados os capazes de gargalhar,
Bem - aventurados os socialmente aceitos,
Bem - aventurados os normais,
porque estarão no número dos eleitos!

Bem - aventurados os filhos de Baco,
os de Eros e os de Afrodite,
Bem - Aventurados os "cabeça - aberta",
Bem - aventurado é quem não se incomoda
com aquele que morre pensando
estar fazendo a coisa certa.

Bem - aventurados os que só acreditam no agora,
os que perderam a esperança,
os pessimistas conformados,
e os consumistas de novidades
porque não serão criticados.

Bem - aventurados os marombados
e as gatas do corpo perfeito,
sem truques de Photoshop,
moldadas na academia,
talhadas a silicone.

Bem - aventurados os hedonistas,
os narcisistas, os egoístas,
os "puxa - sacos"
e os mercenários
financistas.

Bem - aventurados os donos do Capital,
os escravos do vil metal,
os políticos do bem - particular
e os senhores desta "vida feudal"!

Bem - aventurado o povo sem memória,
sem presente e sem passado,
que aceita o futuro
de não ser emancipado.

Bem - aventurados os que não enxergam
que o dia já vai alto,
que a terra nos pedirá contas
e a história virá buscar,
dos dons investidos,
o saldo.

Mas tristes serão estes Macários,
quando os filhos dos filhos de seus filhos,
sentados em seus tronos de juízes
perguntarem pelo bem que não fizeram,
perguntarem pelo Amor que não amaram
e negarem o legado que deixaram.

terça-feira, 27 de março de 2012

PROPOSTA

Deixa eu viajar sobre teu corpo
como a chuva que viaja pelo céu.
Deixa que eu te beije como a água
que refresca e que sacia a escasssez.

Sou água que também tem sede.
Sede de chover fininho,
com carinho,afagando, derramando,
adentrando, penetrando, conhecendo,
envolvendo, misturando, fecundando....

Vamos evolar nossos vapores,
às nuvens, enviar nossos humores.
Subamos, eu em ti e tu em mim:
como um só incenso de amor.

Até que nosso clímax se expresse,
em raios, ventanias e trovões;
vibrando a natureza em convulsões
de escada para a doce plenitude.

Nesta hora tudo fará silêncio.
Neste instante tudo repousará esquecido:
do existir, do porvir, do passado, do aqui,
do agora, do poder, do viver, do morrer...

Naquele instante tudo será uma imensa alegria:
que não se entende,
que só se vive
em uma gota
de eternidade
que se deseja
que nunca acabe.

domingo, 25 de março de 2012

SOBRE AS FLORES ALTERADAS

Procurei entre as flores o perfume de sempre.
Mas as flores não me deram o perfume de outrora.
As flores foram alteradas,
foram adulteradas,
não tinham mais pétalas
eram flores geladas.

Procurei nos sorrisos a verdade inocente,
os sonhos risonhos,os sonhos de sempre.
Mas as flores me deram um sorriso disfarçado,
sorriso de lobo
buscando a presa.

Elevei os meus olhos buscando a beleza,
dos campos pintados de cores floridas.
Mas vi flores tingidas, opacas,
tão jovens e tão velhas!
Curtidas!

Percebi que o mundo tornou- se estéril.
A beleza profusa de outrora se esgota.
E os homens padecem de sede e de fome
em imenso delírio de grande fartura.

Quem roubou a beleza das rosas?
Quem levou o calor da ternura?
Quem roubou -lhes a fé no amor
e o tempero da doce candura?

Eu busquei as sementes pra reconstruir
a beleza de outrora em nova geração.
Mas as flores jogaram seus úteros fora.
São só belas...
E mais nada....
Sensuais...
E mais nada...

Eu busquei os botões para lhes resguardar.
Mas as flores haviam abortado,
em nome do prazer
haviam matado....

sábado, 24 de março de 2012

POEMA CRÔNICO I

Não me mostrem a beleza que não posso ter.
A beleza que não tenho me faz sofrer,
por que não posso alcançar
o que ela me oferece.

A cada um sua parcela de beleza:
assim deveria ser.
E as belezas inacessíveis,
veladas, deveriam estar.

Mas, o que seria do poeta,
se a beleza que não acessa,
não "perturbasse" os seus sentidos
e inebriasse o seu viver?

Todo poeta é sofredor
de ânsia que delira em letras,
de versos que são "opióides",
de rimas que lhe dão prazer.

Todo poeta é louco,
louco que sonha acordado,
que sabe fugir em si;
e em si encontrar a paz

Dizem que sou louco;
e vós o julgais mui bem.
Enquantos os normais só correm
eu paro pra ver os montes
e faço a minha prece.

sexta-feira, 23 de março de 2012

UM POEMA PARA MINHA EVA

Bararam-se tuas formas no caos indefinido.
Eu dormia. Dormia sono profundo.
Eu padecia de frio, de frio absurdo.
Sentia saudades, sem saber bem de quem.

O Caos do Universo e o Caos de orfeu se uniram.
O Mundo Onírico e o princípio do mundo em minha mente tão turva.
Uma palavra soou na escuridão do nada: Ezer... Ezer...
Meu coração ansioso, sem saber bem porque
como que por instinto suspirou perguntando: onde estás? Onde estás?

Veio a resposta em forma de luz.
A luz, artífice, trouxe tons e matizes,
formas e ângulos, larguras e cores,
gestos, ações, efeitos, mensagens...

Meus olhos virgens te viram
como a criança à mãe,
vinda do âmago escuro
do caos fecundo e prenho.

Num suspirado arroubo,
uma consolação plena
me enlevou rumo a ti,
como se a alma tivesse
reencontrado o éden.

Não perguntaste meu nome,
no coração o trazias
de forma clara, indelével,
atemporal inscrição.

E dos teus lábios soou,
como canção que arrebata,
este meu nome secreto,
inscrito em teu coração.

Também o teu, já sabia,
em verso, em prosa, em canção,
de noites, sonhos, esperas,
névoas,escutas e buscas.

Guarda contigo meu nome
como segredo sagrado.
Guardo comigo o teu:
não ouso pronuciá-lo

até que se consuma
a união que esperam
nossos corpos de estrelas,
nossas almas sagradas.

segunda-feira, 19 de março de 2012

VIA

Estou tecendo uma vida
com estes retalhos de sonhos,
que vão unidos com linha
da vida que eu quero ter.

Quem me olhar dirá que sou sem nexo.
Talvez o seja!
Meu coração a vapor
acelerado caminha,
desgovernado talvez.

Por estas curvas virei
com a minha carga torta!
Perdi meus sonhos na estrada.
Muitos foram roubados.

Mas estou vivo e tenho
um coração que é só meu,
ilha no mar da existência
de rota que só eu sei.

RETIRO

Precisei sumir por um tempo.
Andava cansado.
Voltei à montanha
Tal qual velha águia.

Ah, quão precioso é o ermo fecundo,
sem vozes, sem gritos,
sem buscas, sem medos;
me enchendo de Deus,
saindo de mim!

Oh, quão belo é abandonar-se em Deus,
sem medos, sem culpas,
limites, desculpas,
pesar ou medir!

A noite escura cobriu-me com véu,
em férreo torpor de ser recriado...
dispus-me a Ele qual barro nas mãos
de exímio oleiro que molda sua obra.

E quando o sol renasceu,
vi-me transfigurado
naquele em que sou,
vivo,me movo e existo!

sábado, 17 de março de 2012

SOBRE O DESERTO QUE SOU

Neste deserto em que vago
padeço da sede dos teus beijos.
Por vezes deliro
pensando ver um oásis.

Com o deserto,
sou escassez:
de ti,
de nós,
dos teus beijos

do teu corpo,
do teu cheiro,
dos teus olhos
verde - oliva.

Temo que o deserto
me tranforme em poeira.
E tu temes vir a mim
por medo de te perderes.

O que há para ver no deserto?
Nada há no vazio estéril.
De austero, só há o calor.
De ameno, o frio da noite.

Para ti sou um homem de extremos,
um imenso de incertos caminhos;
inconstância que gera inconstância
em caminhos que perdem caminhos.

quinta-feira, 15 de março de 2012

POEMA PARA A FLOR ORGULHOSA

Tornei-me odioso á flor que eu amo.
Feliz é o pequeno príncipe:
com toda empáfia sua Rosa é humilde,
com todo orgulho perdoa-lhe mais.

Da imagem que tinha não sei o que resta.
Ficou o ruim,
o bom, esquecido,
ficou ofuscado,
talvez invisível!

Que remédio servirá
para matar um amor que não morre?
Este espinho de amor ainda vive
a pulsar, a ferir, a doer.

Outras flores,sinais já me deram:
de perfumes, de cores, de viço;
mas pareço envolto em feitiço:
volta e meia suspiro por ela.

Eu suplico clemência, oh flor,
vem, arranca do peito este espinho!
Se detestas a minha presença,
muito mais eu detesto esta vida
de incertezas,insônias e sonhos!

sexta-feira, 9 de março de 2012

NOITE TREMENDA

O velho fantasma voltou à minha porta.
Trouxe consigo a noite escura:
sem luzes,sem tempo e espaços;
sem marcos, faróis e sinais.

Mantive a porta de casa fechada.
Mantive a lâmpada acesa.
Mantive a vigília, a guarda.
Lutei com o sono da alma pesada.

Lá fora o vento sem alma,
tocava a canção que embalava os murmúrios
dos seres obscuros que na noite vagavam
sem ciência da vida ou da morte.

Fui forte.
Vesti a armadura:
A couraça da justiça,
as sandálias da prontidão,
o escudo da fé
e a espada da palavra.

Fui ousado.
Acendi a chama do meu coração.
Empunhei minha espada.
Enfrentei os fantasmas
e com preces da alma:
rasguei o véu da escuridão!

quarta-feira, 7 de março de 2012

POEMETO PARA ALGUÉM

Tua beleza divina,
Me alegra e me faz sofrer.
Enche – me a alma de gozo
E o coração de penar.

Tua beleza, menina, é como o mar:
É vastidão que não fadiga os olhos,
Imensidão que instiga o desbravar
E perigo que atormenta a alma.

Nunca singrei um mar.
Sou homem da terra.
Tampouco voei alturas;
Não tenho as asas que quero.

Mas sou um poeta que sonha,
Sou da beleza um servo,
Amo as flores dos campos
E as deusas que acenam risonhas.

Sou um poeta que sofre:
Sonhos, quimeras e odes,
Nada mais são que arroubos,
De infeliz “arquiteto”!

O CANTO DO JARDIM DESPERTADO

Meu coração é um ninho secreto,
refúgio de amor,
de sinuosa trilha
imperceptível!

É ermida de alturas,
de flores e aves,
de águas e brisas,
silêncio e música.

Ele andava esquecido,
a ninguém dava abrigo,
de tal sorte que andava
do caminho esquecido
desde a ida de Tersa
para o desconhecido!

No entanto, oh mistério,
nunca ficou vazio,
renasceu neste inverno,
o meu jardim interno,
com beleza maior
do que outrora tivera

É que a fonte selada
foi aberta outra vez;
e a Água da vida
despertou as sementes
que dormiam esquecidas.

sexta-feira, 2 de março de 2012

CANTO DE SEPARAÇÃO

Deixem que escape pelos dedos esta angústia.
Estas densas nuvens choverão saudade.
Preciso repousar da intensa luta.
Servem-me os versos de sublimação.

Sinto saudades de ti.
Saudade é abismo sem ponte
que aconselha ao contemplador:
"segue adiante", "segue adiante"!

Saudade é beleza dorida,
terra deixada,
retrato da vida
impresso na alma.

Alegres são os que contam histórias.
Felizes os que contam suas glórias.
Grandes os que conquistam vitórias.
Bem - aventurados os que vivem
Memórias de um amor verdadeiro!

Saudade é mistério profundo.
Resposta alguma a sonda,
revolta nenhuma a demove,
resignações não a solvem;
mas quem a contempla encontra:
Razão das razões escondida!

Eu tenho saudades de ti,
daquela que foste primeiro,
com olhos de sol que se põe,
com mãos de afago e de sonhos,
e colo cheiroso de Maio.

Amei-te também na tormenta,
amei-te também violenta,
com lágrimas quentes de súplicas,
inverno de bela brancura!

Mas eras deusa e eu mortal.
Sentiste saudades do olimpo,
das glórias dos cimos,
da imortalidade.

E desta sorte me precipitaste,
com minha ira mortal,
meu ouro barato,
e minha vida a esmo.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

PASSAGEM

Vinhas cansado, sábio mestre!
Enxergavas homens como a arvores
e as arvores como vultos,
embora fosse a manhã "amena"!

Contigo, teu bando, arfava exausto
e no delírio do grande cansaço
subia o vapor do suor derramado
ao céu como súplica
do perdão dos pecados!

Os pés descalços levavam
os homens cansados,
como o vento às folhas
em um dia de chuva,
sem rumo, sem rota.

Deliravam os bravos
na febre sertaneja
que calcinava as certezas
e da vanglória,a coragem!

"Inferno branco",
Bárbara Selva,
ínvia paragem
sem sombra,
sem relva
à meta obstava!

Mas o Deus - Piedade,
que também viajava,
com a chuva primeira
derramou-se nos vales.

Despertando os bravos
do horrendo cansaço
descansado nas trevas,
viram lívidos vales,
em verde, transfigurados!

É que os os filhos da selva
lhes haviam guardado
em quinze "úteros grávidos"
de algodão perfumado.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

POEMA SECRETO

Para aquela que me deu o primeiro e único enlevo em forma de beijo

Era noite...
Eu ouvi os passos de Tersa...
E seus sorrisos tão puros...
Oh Canção admirável...

Era noite tão fria...
Mas no meu peito ardia...
Força que me abrigava
e tiritar, me fazia...
Saudade, saudade, saudade...

Era noite tão densa
sobre os meus olhos cansados,
que eu dormia rendido
pelo desejo acordado

Mas acordei em meus sonhos
pelos teus olhos castanhos,
a emanar-me a ternura
do teu oásis secreto.

Era tarde castanha
de luz amena e plácida,
como os teus doces olhos,
teus doces olhos tão plenos...

E já se punha o sol
quando senti-me completo
pelo teu beijo secreto
que não se entende,
se vive.

E voei...
Sem saber se eu era um corpo...
Sem saber se eu era um...
Sem saber se eu era eu...
Sem saber se eras tu...
Sem saber se éramos nós...
Voamos...
Sem saber que nós voávamos...
se existia algum espaço...
Algum tempo...
Uma vida....

Deleitamo-nos...
No universo de sabores
do teu ósculo primeiro,
plenamente sinestésico...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

POEMA PARA A MOÇA DOS OLHOS DE SOL

Teu olhar de sol dissipou-me as névoas!
As névoas dos sonhos, das fantasias,
do auto-engano, da melancolia,
da ilusão em que me fazia
o "mártir da vez"!

E aquele brilho que busquei de novo
em teus olhos vivos de menina - moça,
em que me enxergava teu super - herói,
para meu tormento, já não existia!

Neles vi o Sol a dissipar as trevas,
mostrando a verdade do que hoje sou:
perseguidor de quimeras,
pescador de ilusões.

E o mundo belo que cantava, vejo,
ser caos absurdo que eu fantasiava
de versos oníricos, odes alegóricas
para não crescer, não me tornar adulto.

Dissipada as névoas
Tersa foi embora,
e quem resta agora
é comum mortal
como o são as outras!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

PARA TI AS NOVE - HORAS

As sementes que plantei pelo caminho,
vão dizer-te do amor que eu sentia:
eu quisera plantar Rosas mas me deram
nove - horas que plantei como adorno.

Não julgueis pela aparência meu amor.
Nem desprezes meu carinho pela forma.
Grandes rosas mal perduram um só dia.
Nove - horas, cada dia, tem a sua,
muito embora a raiz seja-lhe a mesma.

Sou pequeno e perfume não possuo.
Poucas pétalas compõem minha corola.
Pequeninos são também estes meus versos,
mas compõem a poesia que sou eu.

Colhe rosas, se o queres, no caminho.
Sente o cheiro das corolas festejadas.
Mas recordes que teus pés não se feriram
por que minhas nove - horas te serviram
de tapete que te fora confotável!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ASCESE

Liberdade do caminho.
Novidade da nova via.
Serenidade por sábio guia.
Certeza alguma para levar

Por casa,a natureza
Como amigos: os animais.
Os mistérios por densos véus.
As matas como asilo.

Vão esconder-me estes mistérios,
Vão resguardar-me de todo mal,
Vão esquecer-me os homens "retos",
e voarei como voa o vento!

DEIXA!

Minhas lágrimas de estrelas
deixe que eu chore com liberdade.
Por tanto erro o futuro me deu:
a solidão por espaço.

Sou o poeta dos astros:
o contemplador.
Assim o sou!
Serei assim!
para expiar as minhas penas:

de escolhas erradas,
de amores feridos,
egoísmos lançados
em dardos de vidro.

Será meu castigo
contemplar a beleza
do espaço vazio
sem poder desejá-la,
para não maculá-la!

Minhas lágrimas de estrelas
deixe que eu chore com liberdade.
Por tanto erro o futuro me deu:
a solidão por espaço.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

LAMENTO

Na outra face do "espelho"
pode estar meu inimigo.
Pagam-me risos pela rua,
quem me devia ironia.

Em meu inerte raciocínio
deve estar o meu perigo.
Minha inteligência surda
talvez me sirva de abrigo.

Não vejo a flor do elogio,
talvez há muito seja extinta!
E o calor da acolhida
deixou as terras de minh'alma.

De tanto dar, cansou o solo.
De tanta espera, fez estéril,
a que outrora fora úbere;
vergel, hiléia dos meus sonhos!

Hoje sou monge eremita
e vago pelo meu deserto,
pra resguardar-me da maldade
que transpassou meu coração.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

OUTRO POEMA PARA TERSA

A Via Láctea
a via láctea
como se visse
o seu reflexo.

Nem mil Galáxias
tem a beleza,
a sutileza
e o amor terno
que ela tem.

Eu a desejo
porque seus beijos
excitam mais
que mil elétrons
de um só átomo.

Por ela anseio,
pois é mistério
de mil sistemas,
e conhecê-la
nunca é demais.

Eu quero vê-la,
pois não suporto,
da terra, ver
sinal longínquo.

Desejo tê-la
pra viver nela
milhões de anos
incalculáveis!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

SONHO

A porta do sonho abriu-me
acesso ao secreto jardim.
E vi as aléias do norte,
com seu macadame adornado.

Senti os jasmins perfumando
as trilhas com santo incenso.
De enlevo, eu fui carregado,
até o espelho da lua.

Ali minha fada dormia,
assim como uma criança,
em leito de lírios e plumas,
guardada do mal de outrora.

Guardavam-lhe anjos severos,
velava-lhe a natureza;
e eu pobre espectro, sombra,
não tinha grandeza para lhe acordar!

Fechou -se a porta e veio a vigília,
voltou-me a rudeza do mundo dos homens,
e desde então eu canto uma ode,
da longa distância que não se supera!

PARA UM CERTO NÁUFRAGO!

A surpresa veio em forma de sol!
O sentido veio na forma de sal!
Luz intensa e mente dormida,
acordando, acordando, acordando...

A música veio das ondas do mar!
E a consciência deu nome ao corpo!
O espelho da poça mostrou -lhe a face,
e a face ligou a memória dormida!

Além, muito além, a pátria querida.
Aqui, bem aqui, a terra escondida.
A nau de madeira já é bem partida.
A sorte lançada, o que lhe reserva?

Os pés não caminham em rotas de água.
O bravo não foge da guerra anunciada.
O aventureiro não cansa a vista!
Os homens prudentes o seguem depois
que trilha estradas desconhecidas!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

BEIJOS LIBADOS

Eu quero beijos libados,
a derramar-se de nossos lábios,
por nossos corpos,
em nossas almas.

Quero sorvê-los "insanamente",
como quem encontra um Oásis,
como quem mata sua fome
com alimento esperado.

Deixe que falem sua língua,
estes teus beijos libados;
são idioma perfeito
de verbos inexprimíveis.

Que roubem os meus sentidos,
invadam a minha alma;
e ao meu veemente âmago,
saciem com seu conforto!

Eu quero teus beijos libados,
quero o seu Oásis,
seu sabor, sua textura,
e os seus verbos exclamados!

POEMA DA ESPERA DO VIAJANTE HIBERNADO


Por um macadame bem sentado,
veio caminhando a passos largos,
tal que não sabia se andava
ou se o caminho o levava.

Como um Beija - Flor enfeitiçado
pela rosa Rubra avistada,
viam-lhe ligeiro os transeuntes,
ele nem sequer sentia a marcha.

Vindo o belo bosque que buscava,
desacelerou-lhe o coração;
e caiu num sono desatado,
em vertiginosa hibernação.

E bem onde antes nada havia,
uma porta abriu-se iluminada,
onde o sol do sol, tudo ofuscava,
como a desligar sete sentidos.

Quem o via assim
só lamentava,
nem imaginavam onde ia,
era outro caminho que pegava,
rota interna, chão desconhecido.

Deram-lhe um leito entre as rosas,
estas lhe guardaram entre espinhos,
bem sabiam elas que vivia
e que acordaria restaurado.

Nenhuma lembrança dele havia,
já vivia o mundo ocupado;
mas sabia, a Rubra, que viria;
e antes do esperado ouviria
passos conhecidos na soleira!

POEMA PARA AQUELE QUE PASSA

O vento do egoísmo feriu o roseiral.
E as rosas lhe pagaram com beleza!
E as rosas lhe tornaram perfumado!
E o vento só passou a afagar!

Fez chover chuva de pétalas ali!
Fez sorrir os tristes homens que passavam!
Fez a moça,flor mimosa, encantar-se!
E dançar em rodopios desvairados!

Ficou com o coração constrangido!
O mal lhe fora pago com o bem!
O bem se espalhou por onde foi,
deixando-lhe o peito apertado!

Lembrou - se de uma Rosa de outrora.
Aquela que outrora despediu,
Com lágrimas, vazios e com dor;
sem dó, pesar ou piedade!

Chorou!
Uma chuvinha fria e serena,
como quem chora em baixo do lençol,
e dorme após beber salgado cálice,
das lágrimas que brotam sem cessar!

Choveu!
Tentando abstrair-se em meio às lágrimas,
buscando expandir - se, dilatar-se,
fugindo do calor que lhe oprimia,
calor de uma saudade insaciável!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

PIA PRECE

Pia prece apressada.
Louvor do coração.
Brasas que crepitam.
Versos perfumados.

Sobe o incenso,
tornando-se imenso,
elevando os homens,
com o enlevo da verdade.

Pia prece proclamada,
oração verdadeira,
nascida das fibras,
das fibras plangidas

do coração que chora,
do coração que ora,
do coração que chove,
se derramando inteiro.

E como se alivia,
com a chuva que se desfia,
a oração do que chora ,esfria
o coração que oprimido estava!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

PARECE

Parece não ter partido
quem não está mais aqui,
ainda ouço seu riso
a me dizer:"sorri!"

Vejo seus gestos em tudo,
ouço seus passos na porta:
parece brincar comigo,
pondo á prova o meu amor

que corre pra ver
se a partida foi sonho,
se chegou quem espero,
quem eu sempre esperei!

Sinto seu perfume!
Parece não ter saído de mim.
Ainda me enlevo lembrando,
suspiro fechando meus olhos.

Parece não ter partido
quem não está mais aqui,
ainda ouço seu riso
a me dizer:"sorri!"

domingo, 29 de janeiro de 2012

VERSOS BRANCOS PARA UMA SAUDADE!

Eu tenho saudades!
Saudades de que?!
Tamanha saudade
que no peito me arde
eu não sei descrever!

Só enxergo a distância,
mensuro a solidão,
recordo o passado
na vã tentativa
de deixar ficar,

materializar
o mistério partido
do dom despedido
pela minha razão.

Eu sinto frio!
O frio d'ausência,
de noite argêntea,
de silente luar

Oh Cruel paradoxo!
Arde-me o coração em sede;
e treme a alma melancólica
pelo abrigo dos amplexos!

sábado, 28 de janeiro de 2012

RETORNO ?

Do teu jardim selado
a chave quem terá?
Na porta existe um enigma!
Quem será capaz de decifrar?

Sou vagamundo, errante;
um dom Quixote sem Sancho,
que canta versos em sonhos
a uma Tersa querida,
imaginada e perfeita.

Belas aléias já vi,
por elas eu fui expulso;
a santidade não pode
suportar o que é impuro.

Hoje provado e vivido,
do erro de outrora convicto,
de novo á porta me encontro,
um impossível ingresso,
oh, novamente querendo!

Mas temo e tremo!
A consciência avisa!
O coração acusa!
A dor antiga assoma!
E o respeito freia!

Do teu jardim selado
a chave quem terá?
Na porta existe um enigma!
Quem será capaz de decifrar?

DOLOROSA SAUDADE DA ROSA DOS VENTOS

Na noite escura
só tuas lágrimas brilham,
pronunciando sentenças
que eu não quero ouvir.

No assovio do vento
ouço os teus soluços,
desvelando a verdade
de que tanto fugi.

Querida Rosa dos Ventos,
tenho tanta saudade
dos espinhos e hastes
que a ti me prendiam.

E o perfume intenso,
que agora chega, não vem,
do amor vivido entre nós,
mas da evulsão de tua dor
que arrancou tuas pétalas.

Eu consolar-te não posso,
posto que fiz-me um algoz
que tuas mãos escolheram
ao me mandarem partir.

Eu consolar-me não posso,
este caminho é sem volta,
é imutável,insensível,
irrevogável, austero.

Diz-me a razão: "isto é certo!"
E o Coração: "tenho sede!"
Em alto mar vai o barco,
o litoral, não mais vejo!

VENTANIA

Perdi minha rosa numa ventania!
Fui incompetente; segurar, podia!
outros ventos vira,
mas vencido fui!

Nem os espinhos que
a ela me prendiam,
aguentar puderam,
imensa tormenta.

E partiu a rosa,
das minhas mãos, tomada;
sem exíguo tempo
para argumentar.

E deixei que o vento
também me arrastasse,
pra buscar a rosa,
gozo dos meus dias.

Mas fui golpeado
pela ventania,
fui turbilhonado,
em tontura imensa
de extenuação.

Hoje só me restam
duas mãos feridas,
dois braços vazios,
uma alma saudosa
e um coração partido

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O ERRANTE

Ermo do ermo.
Silêncio.
Canção dos passos
no imenso.

Patrulha, o vento,
os caminhos;
e apaga os passos
do errante.

Cantam os pés.
Toca o vento.
Toca o vento
e cantam os pés.

Caminha o errante
em transe de espera,
tal qual o sonâmbulo
no rumo do sonho.

E o árduo deserto
se torna um arroio
de fontes e flores
de frutos e amores.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

BALADA DO POETA ENCANTADO

Encanto dos meus olhos,
cântaro de marfim;
O poder de me encantar,
não pertence mais a mim.

Bosque interno de jasmins,
mariposas, plenilúnio,
brisa fria, refrescante;
eu dormia; ai de mim!

Nas aléias prateadas,
prateadas de luar,
passeava jovem fada,
sua flauta a tocar.

Revestida de inocência,
pelos lírios, perfumada;
os cabelos d'oiro intenso
uma aura lhe formavam.

Bosque interno de jasmins,
mariposas, plenilúnio,
brisa fria, refrescante;
eu dormia; ai de mim!

Colo branco
adornado,
rins cingidos,
pés descalços.

Flauta doce,
som levado
pela brisa mensageira,
aos errantes da notúrnia,
deixa os olhos encantados.

Sono intenso,
vivos sonhos,
mesmo bosque,
mesmo laço.

Outonais
eram os olhos,
doces mãos as que afagavam,
meus cabelos
e meu rosto.

E na luz de seu sorriso,
despertei, sem saber onde;
se no sonho ou na vida,
se no êxtase ou na dor...

Duas gotas de meus olhos
pôs no vaso de marfim.
O poder de me encantar,
não pertence mais a mim.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CANTIGA DA VEREDA

Vazio que fala.
Silêncio que pede.
Ausência que questiona.
Solidão que mede.

Caminho já ido.
E outro voltado.
O ido, aberto.
O Outro incerto.

A pequenina via que achei floresce.
Tenho ido só.
Tenho alegria,
mas nada me apetece.

Minha musa morta ainda é viva.
Minha companheira abandonei.
Vejo a minha musa e suspiro.
E à companheira não mais tenho.

Vou refazendo minha via estreita.
Calçando de novo os paralelepípedos,
erguendo as pontes,
plantando as flores.

Voltar e refazer já não o posso.
Caminho mas pareço não chegar.
Esta pequena via me ensina:
"Colhei as alegrias deste dia!"

Anelo grandes sonhos que não vejo.
Suspiro e me ponho a imaginar,
tentando pôr as coisas nesta fôrma,
frustrado, não consigo encaixar.

Cansado durmo á sombra dos abrigos;
embala-me a brisa da tardinha
a rede perfumada pelos lírios,
cantando as canções de sossegar.

A noite, qual uma mãe,
em si,me envolve;
atenta ao menor de meus ruídos,
cuidando pra ninguém me acordar.

O dia me alimenta de esperança,
a mente descançada me faz ver,
os meus sete sentidos me encantam
e os meus "pezinhos" lépidos covidam
a nova caminhada empreender.

E rezo para que não chegue a tarde
ou cantem as aves do anoitecer,
rogando, peço a Deus que chegue logo,
O Céu que ele quer ver acontecer!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

SENHORA NOSTALGIA

Na tarde de olhos cansados,
olhando os viventes que passam,
tecia o rosário de queixas,
lembrando de horas passadas.

Tão bela, vazia e bucólica,
em si um deserto trazia
que mil chuvas intensas não davam
um fim ao ardor das lamúrias.

Seu rosto de traços angélicos,
da rosa, o mimo, expressava.
Mas seus olhos de córneas opacas,
à manhã, fim de tarde, faziam.

E viveu como quem já passou,
com relógio de horas paradas,
como quem muito teve na vida,
doravante sem cor nem arrimo.

BALADA DA BOA NOVA

A Boa nova está lá fora!
Está a bater na porta!
Porque tens medo?!
Porque tens medo?!

Acostumado à vida velha,
que te parece ser segura,
a sofrimentos evitáveis
teu coração se acostumou.

Quem roubou a tua face?
Tua imagem, quem roubou?
Nesta penumbra preguiçosa
espelho algum, revelar, pode.

O Coração, já insensível,
nem a saudade, mais, sentia;
mas a voz que clama fora,
trouxe ardor ao que esquecia.

A Boa nova está aqui!
Está a bater na porta!
Porque tens medo?!
Porque tens medo?!

Cá fora a felicidade engalana os campos,
a tristeza, que a muitos matou, não vigora,
os caminhos fechados se abriram
e a verdade liberta os cativos.

A Boa nova está aqui!
Está a bater na porta!
Porque, então, choras?!
Porque, então, choras?!

O Amor amante, saudade do peito,
que em certo ocaso se tinha escondido,
chama teu nome em seu Verbo Divino
para que habites eternos amplexos.

domingo, 15 de janeiro de 2012

A VIA SECRETA


Caminho de pedras.
Caminho das pedras.
Caminho de pedra,
árduo, austero.

Subida marcada,
ritmo forte,
escolha dos passos,
escolha das pedras,
escolha da sorte.

Caminhos em feixe.
Entrelinhas e linhas.
Olhares atentos
descobrem a via.

Homem prostrado,
braços abertos
absorto a olhar
a montanha imensa
de um caminho só.

Poeira, murmúrios,
estrondos, deslizes,
lamentos, derrotas,
feridos e mortos
sem rumo e sem rota

caíam sem vida
na porta aberta,
garganta secreta
e despercebida.

O homem de pé,
lanterna acesa,
achou-lhe a via,
secreta escada
na noite velada
das grandes entranhas.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

OUTRORA!

Dizia-se outrora!
Em outra hora,
melhor que aquela
não se diria!

Eu bem queria,
ter o poder
de viajar
por outras horas

para fazê-las,
pra meu consolo,
bem diferentes
do que as fiz.

Mas,deu-me Deus,
tempo finito,
espaços imensos
e idas sem voltas;

para que às horas,
preciosas e únicas,
vivesse-as como
se fossem as últimas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A PRAÇA


Monumentos vivos.
Monumentos mortos.
Gentes apressadas,
a correr sem tempo.

Os mortos contam a história
de glórias de outrora.
Os vivos, invisíveis,
apenas sobrevivem.

Os mortos gloriosos,
inertes e perfeitos
sinais de outros tempos,
na ignorância imensa,
nas intempéries passam.

Os invisíveis vivos,
fantasmas sem beleza,
de aço,ferro e mármore,
o são mais que os mortos.

E as gentes automáticas,
com medo de ficar,
caminham contra o tempo
pra não petrificar.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

RESGATE


Silêncio do monte.
Silêncio acompanhado,
pleno, completo,
silêncio que fala.

Fez-se calmaria novamente em mim.
Uma voz ouvi bradar na escuridão,
das trevas da noite
e da treva em mim.

Era hora extrema
e eu sequer sentia;
eu já resvalava
e sequer sabia!

Palavras de ordem bramiram no ar:
pefídia, perfídia, pra longe daqui!
Uma raio na noite me fez enxergar:
desperta, desperta, à luz regressai!

Qual névoa pode ante o sol ficar?
Qual treva ao Sol pode subjugar?
Eu trago a marca do Amor em mim,
a indelével marca do Amor.

Esperavam os Astros uma Teofania.
Muitos falsos profetas previam o fim.
Agoureiros zombavam,meneando a cabeça,
poderosos rugiam qual leões em seus tronos.

Mas passaram como a flor que fenece,
como as trevas da noite,
com a névoa da aurora,
do espaço sumiram!

E eu que vira me prostrei por terra.
Saí de mim para O adorar.
Veio na Brisa, na brisa suave,
doce Menino estender-me a mão!