domingo, 28 de março de 2010

DESEJO

Quero o teu corpo
não como ópio,
mas como abrigo,
sinal de amor!

Mais que teu corpo
quero teu ser,
dom que só tú
decide a quem dás!

Dá-me tuas mãos,
recebe meu dom,
afaga meu corpo,
guarda o meu ser!

Quero os teus olhos,
teus olhos de amêndoa,
destilando mel,
mel virgem, Real!

Deixa-me ver,
no reflexo deles,
a alegria que causa
o meu ser em teu ser!

Mata-me a fome,
beija-me muito,
beija-me sempre
calando minha boca!

Deixa-me ouvir
a doce canção,
dos sussurros voláteis
e da respiração

do peito que doa,
do teu colo que freme,
das tuas cordas que emitem
sons initeligíveis

SEGUNDO ENIGMA

Urde,
Arde,
Anseia
e clama.

Versa,
vaza,
transborda
e chega.

Entra,
passa,
permeia
e fica.

Age,
reage,
transmite
e interage

Até
atingir
do espaço
a meta!

A FAGULHA

Pio rodopio,
entregue ao ar,
como se fosse dele
uma partícula louca!

Fagulha confiante,
da forja subida
ardendo sem pensar
em sua curta vida

passou pela janela,
buscou a palha seca,
querendo arder pra sempre
como manda a natureza!

Nem mesmo a chuva fria,
que ao longe anunciava
em luz e ribombada
sua vinda eminente

assustou a fagulhinha,
que garbosa se exibia,
como linda bailarina
em sua trilha incandescente

sexta-feira, 12 de março de 2010

CANTIGA DA LIANA



Eu vi a Liana
lançando seu ramos
no rumo do céu
buscando o sol.

A vi enroscar-se
no frio metal,
nas tramas de ferro
das grades da casa.

Da casa vazia
que tinha sem ter,
e sendo o que era,
o era sem ser.

E deu - lhe a Liana
paredes e portas
telhas e teto
de flores e folhas.

O piso seguro
de boa madeira
que nunca se estraga
teceu com as raízes.

Do amor que é razão
encheu-lhe por dentro
transmitindo vida
ao frio esqueleto,

Criando um abrigo
de quatro estações,
qual seio de esposa
que aquece o esposo!

ENIGMA

Insídia,
Achaque,
Agulha,
E ferrão.

Perfídia,
pecado,
passado
e pressão.

Matéria,
malícia,
miséria
e morte;

má sorte
dos idos
que vão
sem amor.

Imagem,
espelho,
luz
e objeto.

Lembrança,
memória,
espaço e vão,
num dia incerto
se vão apagar!

domingo, 7 de março de 2010

RETRATO DE UMA DONZELA


O leve liar
do liame de linho
colhido no outono,
ouvia-se ao longe
em santo tear.

A roca cantante
da gaia donzela,
era-lhe instrumento
que acompanhava

A doce canção
de virgem menina
que espera o esposo
garbososo e heróico

Que um dia virá
no leito de linho,
deitar-se com ela
em núpcias santas!

DELÍRIO

Fátuo fogo suspirado,
gás ilusório,
luz encantada,
admirável!

Atmosfera que canta:
leve e plástica,
todo pintada
pela aurora
tão boreal.

Anjos de plático,
Anjos de seda,
seres metálicos,
sons de corneta.

Vozes hedônicas,
seres do véu,
descem cortando,
as vestes do céu.

Sons acutíssimos,
irritação,
milhões de clamores
qual turbilhão

Cego, nublado,
escuro, clarão,
relâmpagos vivos
ventos e espaços,
chuva e trovão!

CANTO DE ESPERA

Em breve!
Em breve virá o que é leve,
aliviar a alma pesada
para que livre veleje.

Virá!
Virá como inverno esperado,
pelo chão que arde e reclama,
que seja saciada sua sede.

Será:
Como o amado que busca,
na madrugada a amada,
para correrem os campos
e se esconder numa tenda!

Terá:
os negros cabelos molhados
de perfumado orvalho
da madrugada inocente,
fresca, pueril e silente!

O sorriso do ébrio que ama,
as mãos e os braços sedentos,
do abraço do ser que anela
ter todo em si para sempre;

O peito que ofega em suspiros,
os olhos que buscam o alívio
da beleza da amada dos sonhos
que a muito houvera partido!