domingo, 31 de janeiro de 2010

CANTO DE FIM DE TARDE


Vazio d'alma,
plácida calma,
estranha e longíqua,
saudosa e melancólica!

Sereno de fim de tarde,
perfume que exala a terra,
das escondidas raízes
que burilam a seiva bruta!

Brisa suave e fria,
tempo que esconde a alma,
cortina de nuvens turvas
que choram qual carpideiras.

No ermo se espalha a alma,
no ermo do espaço imenso,
pequeno para conter
os desejos que traz em si.

A mente, alcançar, peleja,
o pássaro migratório,
a parte que foi sozinha,
fugindo do agreste tempo!

PEQUENO RETRATO DE UM MENTECAPTO

Eu vivo assim:
já morrendo.
Tendo o que tenho,
sem ter.

Para o domínio Divino,
vivo a perder o que tenho,
nunca alcanço o que quero,
nem satisfaço o meu ser!

Busco o olhar que perdi,
os meus olhos pueris,
o que ainda não conheço,
mas almejo, mesmo assim!

Trago comigo projetos,
verdes, inocentes,
tolos e infantis
incertos, por certo!
Mas honestos,deveras!

Tenho uma casinha no campo,
Um cachorro amigo,
um jardim florido
sem Margaridas
ou flores - de - lis!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

VIAGEM

Laivos deixados,
ávidos lábios,
sofreguidão,
doce sabor.

Êxtases mágicos,
sonho real,
amor atraído
ou simples delírio?

Entrega, descida,
vôo, subida,
não explicável,
contudo sentida!

Sorrisos e cantos,
suspiros ,murmúrios,
prelúdios e óperas,
comédias e dramas.

Até a exaustão,
imperceptível,
escuro mental
e luz dos sentidos!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

DESABAFO

Não, eu não fiquei feio;
foi o seu olhar que não veio
quando o meu o chamou
para o caminho que eu via!

Ainda sou o mesmo,
o do ósculo primeiro,
o poeta da tardinha,
aquele que chegou cedo
na tua feliz primavera!

Todo, profundo e mistério,
mundo a ser descoberto,
sem cansar quem por ele
resoluto caminha;

Ou enfadar o que nele
anela encontrar
um feliz sossegar
de uma longa jornada!

Não, eu não fiquei velho,
no caminho que faço
depurando me vão
minha essência profunda!

Se me vês anacrônico,
ou superficial,
diz-me tu, nobre ser,
o que eu tenho a ver
com teu jeito de olhar?

domingo, 3 de janeiro de 2010

CONCERTO NOTURNO

Sentado na pedra eu ouço
o que me contam as virações de inverno.
Elas me falam da melancolia,
do frio vazio que de longe vem!

A noite negra em que a lua moça
em véu de nuvens neblinado esconde-se,
faz com que os seres cantem suas odes
a uma saudade que é fogo "eterno".

E eu que sou pobre mortal que espera,
apenas ouço e me inebrio,
fecho os olhos e me torno ébrio
desse ar frio que os pulmões me enchem!