quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

PASSAGEM

Vinhas cansado, sábio mestre!
Enxergavas homens como a arvores
e as arvores como vultos,
embora fosse a manhã "amena"!

Contigo, teu bando, arfava exausto
e no delírio do grande cansaço
subia o vapor do suor derramado
ao céu como súplica
do perdão dos pecados!

Os pés descalços levavam
os homens cansados,
como o vento às folhas
em um dia de chuva,
sem rumo, sem rota.

Deliravam os bravos
na febre sertaneja
que calcinava as certezas
e da vanglória,a coragem!

"Inferno branco",
Bárbara Selva,
ínvia paragem
sem sombra,
sem relva
à meta obstava!

Mas o Deus - Piedade,
que também viajava,
com a chuva primeira
derramou-se nos vales.

Despertando os bravos
do horrendo cansaço
descansado nas trevas,
viram lívidos vales,
em verde, transfigurados!

É que os os filhos da selva
lhes haviam guardado
em quinze "úteros grávidos"
de algodão perfumado.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

POEMA SECRETO

Para aquela que me deu o primeiro e único enlevo em forma de beijo

Era noite...
Eu ouvi os passos de Tersa...
E seus sorrisos tão puros...
Oh Canção admirável...

Era noite tão fria...
Mas no meu peito ardia...
Força que me abrigava
e tiritar, me fazia...
Saudade, saudade, saudade...

Era noite tão densa
sobre os meus olhos cansados,
que eu dormia rendido
pelo desejo acordado

Mas acordei em meus sonhos
pelos teus olhos castanhos,
a emanar-me a ternura
do teu oásis secreto.

Era tarde castanha
de luz amena e plácida,
como os teus doces olhos,
teus doces olhos tão plenos...

E já se punha o sol
quando senti-me completo
pelo teu beijo secreto
que não se entende,
se vive.

E voei...
Sem saber se eu era um corpo...
Sem saber se eu era um...
Sem saber se eu era eu...
Sem saber se eras tu...
Sem saber se éramos nós...
Voamos...
Sem saber que nós voávamos...
se existia algum espaço...
Algum tempo...
Uma vida....

Deleitamo-nos...
No universo de sabores
do teu ósculo primeiro,
plenamente sinestésico...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

POEMA PARA A MOÇA DOS OLHOS DE SOL

Teu olhar de sol dissipou-me as névoas!
As névoas dos sonhos, das fantasias,
do auto-engano, da melancolia,
da ilusão em que me fazia
o "mártir da vez"!

E aquele brilho que busquei de novo
em teus olhos vivos de menina - moça,
em que me enxergava teu super - herói,
para meu tormento, já não existia!

Neles vi o Sol a dissipar as trevas,
mostrando a verdade do que hoje sou:
perseguidor de quimeras,
pescador de ilusões.

E o mundo belo que cantava, vejo,
ser caos absurdo que eu fantasiava
de versos oníricos, odes alegóricas
para não crescer, não me tornar adulto.

Dissipada as névoas
Tersa foi embora,
e quem resta agora
é comum mortal
como o são as outras!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

PARA TI AS NOVE - HORAS

As sementes que plantei pelo caminho,
vão dizer-te do amor que eu sentia:
eu quisera plantar Rosas mas me deram
nove - horas que plantei como adorno.

Não julgueis pela aparência meu amor.
Nem desprezes meu carinho pela forma.
Grandes rosas mal perduram um só dia.
Nove - horas, cada dia, tem a sua,
muito embora a raiz seja-lhe a mesma.

Sou pequeno e perfume não possuo.
Poucas pétalas compõem minha corola.
Pequeninos são também estes meus versos,
mas compõem a poesia que sou eu.

Colhe rosas, se o queres, no caminho.
Sente o cheiro das corolas festejadas.
Mas recordes que teus pés não se feriram
por que minhas nove - horas te serviram
de tapete que te fora confotável!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ASCESE

Liberdade do caminho.
Novidade da nova via.
Serenidade por sábio guia.
Certeza alguma para levar

Por casa,a natureza
Como amigos: os animais.
Os mistérios por densos véus.
As matas como asilo.

Vão esconder-me estes mistérios,
Vão resguardar-me de todo mal,
Vão esquecer-me os homens "retos",
e voarei como voa o vento!

DEIXA!

Minhas lágrimas de estrelas
deixe que eu chore com liberdade.
Por tanto erro o futuro me deu:
a solidão por espaço.

Sou o poeta dos astros:
o contemplador.
Assim o sou!
Serei assim!
para expiar as minhas penas:

de escolhas erradas,
de amores feridos,
egoísmos lançados
em dardos de vidro.

Será meu castigo
contemplar a beleza
do espaço vazio
sem poder desejá-la,
para não maculá-la!

Minhas lágrimas de estrelas
deixe que eu chore com liberdade.
Por tanto erro o futuro me deu:
a solidão por espaço.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

LAMENTO

Na outra face do "espelho"
pode estar meu inimigo.
Pagam-me risos pela rua,
quem me devia ironia.

Em meu inerte raciocínio
deve estar o meu perigo.
Minha inteligência surda
talvez me sirva de abrigo.

Não vejo a flor do elogio,
talvez há muito seja extinta!
E o calor da acolhida
deixou as terras de minh'alma.

De tanto dar, cansou o solo.
De tanta espera, fez estéril,
a que outrora fora úbere;
vergel, hiléia dos meus sonhos!

Hoje sou monge eremita
e vago pelo meu deserto,
pra resguardar-me da maldade
que transpassou meu coração.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

OUTRO POEMA PARA TERSA

A Via Láctea
a via láctea
como se visse
o seu reflexo.

Nem mil Galáxias
tem a beleza,
a sutileza
e o amor terno
que ela tem.

Eu a desejo
porque seus beijos
excitam mais
que mil elétrons
de um só átomo.

Por ela anseio,
pois é mistério
de mil sistemas,
e conhecê-la
nunca é demais.

Eu quero vê-la,
pois não suporto,
da terra, ver
sinal longínquo.

Desejo tê-la
pra viver nela
milhões de anos
incalculáveis!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

SONHO

A porta do sonho abriu-me
acesso ao secreto jardim.
E vi as aléias do norte,
com seu macadame adornado.

Senti os jasmins perfumando
as trilhas com santo incenso.
De enlevo, eu fui carregado,
até o espelho da lua.

Ali minha fada dormia,
assim como uma criança,
em leito de lírios e plumas,
guardada do mal de outrora.

Guardavam-lhe anjos severos,
velava-lhe a natureza;
e eu pobre espectro, sombra,
não tinha grandeza para lhe acordar!

Fechou -se a porta e veio a vigília,
voltou-me a rudeza do mundo dos homens,
e desde então eu canto uma ode,
da longa distância que não se supera!

PARA UM CERTO NÁUFRAGO!

A surpresa veio em forma de sol!
O sentido veio na forma de sal!
Luz intensa e mente dormida,
acordando, acordando, acordando...

A música veio das ondas do mar!
E a consciência deu nome ao corpo!
O espelho da poça mostrou -lhe a face,
e a face ligou a memória dormida!

Além, muito além, a pátria querida.
Aqui, bem aqui, a terra escondida.
A nau de madeira já é bem partida.
A sorte lançada, o que lhe reserva?

Os pés não caminham em rotas de água.
O bravo não foge da guerra anunciada.
O aventureiro não cansa a vista!
Os homens prudentes o seguem depois
que trilha estradas desconhecidas!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

BEIJOS LIBADOS

Eu quero beijos libados,
a derramar-se de nossos lábios,
por nossos corpos,
em nossas almas.

Quero sorvê-los "insanamente",
como quem encontra um Oásis,
como quem mata sua fome
com alimento esperado.

Deixe que falem sua língua,
estes teus beijos libados;
são idioma perfeito
de verbos inexprimíveis.

Que roubem os meus sentidos,
invadam a minha alma;
e ao meu veemente âmago,
saciem com seu conforto!

Eu quero teus beijos libados,
quero o seu Oásis,
seu sabor, sua textura,
e os seus verbos exclamados!

POEMA DA ESPERA DO VIAJANTE HIBERNADO


Por um macadame bem sentado,
veio caminhando a passos largos,
tal que não sabia se andava
ou se o caminho o levava.

Como um Beija - Flor enfeitiçado
pela rosa Rubra avistada,
viam-lhe ligeiro os transeuntes,
ele nem sequer sentia a marcha.

Vindo o belo bosque que buscava,
desacelerou-lhe o coração;
e caiu num sono desatado,
em vertiginosa hibernação.

E bem onde antes nada havia,
uma porta abriu-se iluminada,
onde o sol do sol, tudo ofuscava,
como a desligar sete sentidos.

Quem o via assim
só lamentava,
nem imaginavam onde ia,
era outro caminho que pegava,
rota interna, chão desconhecido.

Deram-lhe um leito entre as rosas,
estas lhe guardaram entre espinhos,
bem sabiam elas que vivia
e que acordaria restaurado.

Nenhuma lembrança dele havia,
já vivia o mundo ocupado;
mas sabia, a Rubra, que viria;
e antes do esperado ouviria
passos conhecidos na soleira!

POEMA PARA AQUELE QUE PASSA

O vento do egoísmo feriu o roseiral.
E as rosas lhe pagaram com beleza!
E as rosas lhe tornaram perfumado!
E o vento só passou a afagar!

Fez chover chuva de pétalas ali!
Fez sorrir os tristes homens que passavam!
Fez a moça,flor mimosa, encantar-se!
E dançar em rodopios desvairados!

Ficou com o coração constrangido!
O mal lhe fora pago com o bem!
O bem se espalhou por onde foi,
deixando-lhe o peito apertado!

Lembrou - se de uma Rosa de outrora.
Aquela que outrora despediu,
Com lágrimas, vazios e com dor;
sem dó, pesar ou piedade!

Chorou!
Uma chuvinha fria e serena,
como quem chora em baixo do lençol,
e dorme após beber salgado cálice,
das lágrimas que brotam sem cessar!

Choveu!
Tentando abstrair-se em meio às lágrimas,
buscando expandir - se, dilatar-se,
fugindo do calor que lhe oprimia,
calor de uma saudade insaciável!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

PIA PRECE

Pia prece apressada.
Louvor do coração.
Brasas que crepitam.
Versos perfumados.

Sobe o incenso,
tornando-se imenso,
elevando os homens,
com o enlevo da verdade.

Pia prece proclamada,
oração verdadeira,
nascida das fibras,
das fibras plangidas

do coração que chora,
do coração que ora,
do coração que chove,
se derramando inteiro.

E como se alivia,
com a chuva que se desfia,
a oração do que chora ,esfria
o coração que oprimido estava!