segunda-feira, 31 de outubro de 2011

CONSELHOS PERPÉTUOS


Acerte o preço.
Aprecie o certo.
Não dê prazo ao apreço.
Nem apresse o acerto.

Aperte o passo.
Não passe só perto.
Não perca o momento
oferecido.

Acorde cedo.
Acerte o acorde.
Afine os acordos,
mas conceda-se errar.

Aprenda com os erros.
Erre aprendendo,
por caminhos novos,
mas sem egoísmo.

Confesse as falhas,
colha as riquezas,
que vêm da grandeza
da vida gentil:

"Gentileza gera gentileza."

sábado, 29 de outubro de 2011

PEREGRINO


Enfado.
Fastio.
Estio.
Estiagem.

Viagem.
Ventura.
Vazio.
Voragem.

Estro.
Estroma.
Cica
e cio.

Fome.
Sede.
Tudo
e nada...

Só os meus passos perdidos
na longa estrada....

Oásis,
deserto,
areia
e miragem.

Fadiga,
tremores,
lesões
e bandagens.

Sem sangue,
sem água,
nem identidade,
eu vou com os grãos
desta tempestade.

SEDE


Tenho sede da beleza.
Não de beleza qualquer.
Mas daquela que me enterneça,
que me enlace, que me acolha.

Tenho olhos sequiosos.
Vivo a pedir atenção.
O que há de errado com os meus olhos?
São olhos negros de madrugada

que estão estão a pedir o teu sol,
tuas luzes, tuas cores,
teus matizes, teus amores,
teu humor, tuas flores

tuas curvas, teus caminhos,
tuas montanhas, teus abrigos,
sabores e beijos,
êxtases e sonhos.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PRECE AO AMOR ETERNO


Antes da Hora: a vida.
Antes da vida: o amor.
Ante o amor, o antes,
na eternidade some.

Rápidas passam as horas.
São os trilhos da vida.
E ao Amor eterno,
quero agarrar-me, unir-me.

Peço-te, Amor eterno,
não me deixes perdido!
Quando passar a vida,
por sobre as horas idas,
quero ser um contigo.

TÉDIO


Na espera vaga,
tudo é virgem,
tudo espera
pelo começo.

A noite espera pelo dia,
o sono pela vigília,
o papel: a ferida da letra,
e a saudade: a boa notícia.

E a lente da preguiça tudo amplia:
o sono quer mais noites,
a letra: inspiração.

Vira a saudade melancolia;
e a boa notícia se perde
pelos caminhos da solidão.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

FLOR DO PRANTO

Lira alterada.
Pena cansada.
Silêncio.
Madrugada.

Frio e borrasca,
trovões e raios,
clarões e ribombares.

Linguagem estranha,
combinações diversas,
canções etéreas
no ar pesado.

Cheiro de terra,
vaporoso aroma,
sobem perfumes,
do chão fecundo.

E os sentidos,
ficaram buscando,
sinais de Tersa:
a flor do pranto.

O VIAJANTE



Rebento
pudendo,
ardendo,
podendo,
querendo,
e sendo
o verso esperado.

Averso
avesso,
atravessou
o universo
de minhas sextilhas.

Caiu do céu,
no mar da vida.
Levado foi até a praia
pelas correntes, pelo vento
até o pé da sexta ilha.

QUESTÃO


Por certo,
deveras,
de certo,
também.

Por vezes,
às vezes,
revezes,
me vêm.

E quando me chegam,
revejo pessoas,
lugares e tempos,
a me questionar
do certo e errado.

E quem poderá me dizer o exato?
A quem será dada a perfeita visão?
Só tenho a certeza de pobres segundos,
que fogem de mim, assim como chegaram!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

CANÇÃO DE AMIGO


Fique comigo para ver auroras,
deite comigo neste pôr de sol,
sonhe comigo, junto de mim,
dentro de mim, una comigo.

Quero contigo ver um outro mundo,
que só teus olhos sabem enxergar.
Mostra-me a vida como a sabes ver;
eu, do meu mundo, já estou cansado!

Dá-me a ouvir a canção do teu riso,
a luz dos teus olhos para eu sondar
teu coração, candura que refaz,
pobres mortais do seu cansaço vil!

Longe de ti, sou solitária cor,
unido a ti sou mais do que pensava,
posso alcançar os cumes das montanhas
que, só aos céus, segredam suas almas.

sábado, 22 de outubro de 2011

CANÇÃO DA SARJETA

Canções da sarjeta,
murmúrios esparsos,
sussurros, risadas,
sombras ligeiras,

pilhérias, escárnios,
zombarias e mofas,
ironias e troças,
no escuro da casa.

Visões turvas, clarões,
sensações misturadas,
confusão dos sentidos
em torrentes intensas.

Descontrole total,
inconsciência, delírios,
em um corpo que expande
como o gás incontido...

VIOLÊNCIA


Eu ví lírios violentados
pelas mãos de quem os devia afagar.
Vi seu perfume espalhado pelo ar,
pagando a violência a beleza.

Ouvi o sorriso dos dessacralizados,
seus escárnios, suas pilhérias,
sua canções de dubiedades,
os seu gritos de tortura.

Chorei!
Chorei pelos Lírios violentados,
cantei minhas odes
e espalhei suas pétalas
sobre os rastros dos bandidos.

Reguei
suas raízes com minhas lágrimas,
confessei minha maldade,
libertei a minha alma
das vestes da ilusão!

Devo voltar à Notúrnia....

CONSELHO


Acerte a sorte para a hora certa,
venha que o trem já vem resfolegando,
pra estação da sorte certa para o dia,
quem ninguém sabe ou finge não saber.

Leva contigo o mapa dos teus sonhos,
preste atenção nas estações que passam,
escute a voz da moça da estação
cantando a sorte dos que vão chegando
pra não descer em estação errada.

E quando pois chegar ao canto certo,
acolhe tudo com o peito aberto.
Se te vierem receber sorri,
se te esquecerem na estação não chores,
vai conhecer a tua nova sorte!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

DELÍRIO NOTURNO


De longe o mar me trouxe os ecos,
de risos,beijos,sussurros,
murmúrios,juras, perjúrios,
no seu vai e vem de vida,
em seu vai e vem de mar.

Era densa noite escura,
de chuvas dançantes,
ventos sibilantes,
raios cintilantes,
e lua escondida

E qual um monumento eu fiquei
de olhos fechados,
ouvindo a canção
que plangia as cordas
do meu coração.

FIM


Fiquei aqui,
colhendo restolhos
tecendo com rebotalhos,
a história que me restou.

Chorei
ao ver que construi castelos,
docéis nimbíferos
que com meu pranto
doravante se esvaem.

Voltei
ao ponto de minha partida,
terra das incertezas,
de madrugadas longas
de frio recolhedor.

Lá fora
só ouço a brisa cantando,
seu canto de ermo imenso,
ninando minha mente cansada
de lutar com moinhos de vento.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PRECE À PLUVIOSA


Voltarei com a Pluviosa,
minha companheira!
Preciso me reunir,
me condensar,
me saturar,
me diluir
e derramar

Oh Pluviosa Senhora,
cujo escuro é balsâmico,
ajudai-me a expressar meu pranto,
a explodir meu peito,
dê a minha fuga veloz
a velocidade do raio.

Segurai as rédeas de minha violência,
coordenai o vento de minha voz,
resguardai-me do mundo torpe
e clamai para mim: o dia novo!