domingo, 27 de novembro de 2011

SEGREDO CONTIDO


Queria publicar o impublicável,
narrar o que não posso,
não por ser inenarrável,
mas porque tenho uma dúvida,

se o que trago, cá em mim,
é real ou é possível,
de vir à minha vida
como velha boa - nova!

Ai que bom seria agora,
ser ave migratória
que me retornasse ao ninho,
a que aprendeu voar.

Ah quão bom seria ouvir
seus arrulhos companheiros
me dizendo que não sou
tão estranho quanto penso!

Mas ainda cá comigo
não possuo lar ou trilhos,
nem sequer nas mãos um calo
a provar objetivos.

Vivo à toa, de cantigas,
só de planos, sou boêmio,
faço versos, melodias,
me abstenho e durmo cedo!

Muito embora desprezível,
sou devoto e fiel,
vagabundo sonhador
capaz de colher mil flores

que encontro no caminho
quando vou comprar o pão,
pão do dia, pão da vez,
pão melhor a cada dia!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

PARA A MULHER ESTELAR


Foram dois verões e um sol.
Um só mar azul e dois céus.
Mil estrelas luzem no véu
de uma noite que não passou.

E a mim restou recordar,
teu olhar de lua e teu mar,
onde naveguei a mirar
teu colo adornado de estrelas.

Jóia rara, rica visão,
configuração estelar,
em alinhamento soberbo,
obra prima, arte sem par

em um corpo negro e nu,
versos de mistério em poema,
de perfeitas rimas e métrica
que os mortais não podem cantar.

Eu contar quisera e não sei,
as estrelas que te adornavam.
Eu cantar quisera e não pude,
o teu corpo nu, no luar;

para ver se a mim tu voltavas,
se te alcançava no céu,
ou te descobria o veú
pra de novo ver teu olhar!

CRISE



Ardi:
de febre nova ao sol,
em meio ao frio dos vales
que ficam no alto sul!

Ninguém me viu tiritar no paradoxo!
Não há pior tortura pra alma,
ocidental alma inquieta,
que não dispor de uma régua

para medir os fenômenos,
oferecer prolegômenos,
precisar os espaços
e dominar os mistérios!

Era um fogo!
Misterioso fogo inquieto!
E eu julgava delirar, morrer
vezes de frio, vezes de calor
em equinócio de hemisfério incerto!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SEMENTES, FRUTOS E FLOR!


Para onde foi a semente?
Sente saudades o fruto!
E o que foi feito da flor?
ofereceu o insenso

do perfume exalado,
do polén doado,
da beleza exposta,
das cores que alegraram

quem teve tempo de olhar,
de cismar pasmado,
respirar profundo
e fechar os olhos!

E como se não bastasse,
murchando - lhe a beleza,
cessando-lhe o olor,
embalou-se em um útero

tornou-se um conjunto de múltiplos,
adornou-se de belo aspecto
para dar aos sentidos restantes
a textura,o desejo e o sabor.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CONFESSA!


Confessa!
Não há mais laços e gumes,
heróis ou vilões,
perigos ou danos.

Estamos longe!
De tudo e de todos,
em um "enfim sós"
há muito esperado!

Desata os nós:
da alma,
da boca,
dos braços,

dos pés,
do corpo,
da mente
e da roupa.

Deixa vir à tona
o verbo contido,
os versos reprimidos
e os sussurros inexprimíveis.

Deixa reagir:
a alma encantada,
a boca que é beijada,
os braços desejosos,

os ansiosos pés,
o corpo que se expressa,
a mente que arquiteta
e a roupa que revela.

Será como um rio preso
que a muito desejava
correr ao oceano
pra ser plenificado.

Será como a ave liberta
que cantava suas agruras
com saudade das alturas,
presa por visgo confuso...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

PRECE AO SANTO PAPEL


Santo leito branco:
benditos são os teus amplexos,
ditosos os teus horizontes
e afável é o teu refúgio.

Nunca me falte desta árvore,
abundantes sejam suas folhas,
fortes sejam suas raízes,
para que o vento não me leve!

Humilde leito branco:
perdoai-me as chagas que vos causo
pelas palavras amarrotadas
que minha mente em vós derrama.

E os meus segredos de degredado
de que vos tenho maculado,
deixai que a traça, o tempo e o fogo
os silenciem na eternidade!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

EM UM PALO



Em um palo dorido,
sob a pala da noite,
contorcia-se aos sons
dos bandolins encantados.

Dormia,
mas foi despertada,
ao soar a Solería,
das fibras sonoras

do peito magoado
que os dedos movia
nas revoluções
dos acordes chorados.

Veio
como a mariposa
para a lâmpada fosca
do salão alumbrado.

E morreu
no silêncio da noite,
branca, lívia, risonha
desolada e etérea.

sábado, 19 de novembro de 2011

POEMA DO PÃO E DO DIA



O dia de hoje é um mundo!
E o de amanhã é um outro!
Cada dia que vem é imenso!
Bom é viver um por vez!

O pão da hora é o bom.
Nem sempre o de ontem, se come.
O de amanhã está cru,
mas virá pelas mãos que o faz

na hora certa e na justa medida,
pelo passo, a prece e a fé,
esperando as mãos estendidas
e na vida aberta, acolhida.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

BUSCA



Quero a Palavra nova,
Palavra eterna,
de Sentido pleno,
Lume sem igual.

Onde está o arauto?
E o Mensageiro?
Maior que a espera,
é o silêncio - verbo.

Quero a novidade,
novidade eterna,
que constrói a vida
e consola o peito.

Sonho com seu rosto,
mesmo sem ter visto.
Já não durmo mais,
orando, vigio.

Venha sem demora,
oh Palavra Nova,
trazendo tua vida,
teu tempo, tuas cores.

Minha alma grita,
clamando, pedindo
o bem que lhe trazes,
tão desconhecido.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

POEMA PARA UM GATO PARDO


Eu era dos gatos,
de todos, o mais pardo,
confuso e misturado,
mesclado e invisível!

De cima dos telhados
"mandava meu terror",
confuso e misturado,
mesclado e invisível!

Meus passos de malandro,
suaves e macios,
nem mesmo ouvia a brisa,
que eu, mais misturada!

A noite, noite breu;
que a tudo dominava,
ficou atordoada,
confusa e misturada,

pensando que os meus olhos
eram dois pirilampos
safados, vagabundos
confusos e mesclados!

E ouviu quando sorri,
meu riso telegráfico,
sentindo arrepios
com o frio do meu hálito

cetônico e torpe,
etílico e doce,
básico e volátil
confuso e mesclado!

CONSEQÜÊNCIA



Lira leve,
leve ira,
irá leve,
mas irá,

sete versos,
sete miras,
sete setas,
sete vidas

acertar
silenciosa,
como a áspide
escondida.


Quem alterou o que estava já certo,
Quem perturbou o que estava quieto,
Quem invadiu o que era proibido,
surtou o instinto que estava escondido!

Será possuido de grande pavor,
será consumido de grande temor,
será perspassado de grande estupor
da imensa perfídia que lhe atingiu.

Ficará na estrada da vida
catatônico, inerte, iníquo,
monumento horrendo, terrível,
qual sinal, qual um grave aviso!

sábado, 12 de novembro de 2011

MANTÉM TUA LUZ


A solidão soou o sinal!
Dobram os sinos saudosos nos cimos
das torres eternas do templo da alma
que busca o Ézer a muito perdido.

Ressoa o sinal vibrando as fibras,
os átrios, medulas, junturas e pele;
clamando, pedindo, chorando, bramindo
qual chão sequioso no sol sob o sol.

É grande o vácuo, imensa a distância;
domina o espaço, e a amplidão
maltrata, na espera, quem é limitado,
querendo sem ter, ainda, alcançado.

Por isso, nas trevas, mantém tua luz
com óleo vivaz do amor por amor,
da paz pela paz, vida por vida,
da fé pela fé que não desanima.

Então tu verás o que te dizia,
na noite escura, desértica e fria:
ao longe mil luzes enxergam a tua,
alegres por já não estarem sozinhas.

Uma luz que se acende: a outras anima.
Uma luz que é mantida: se torna um guia.
Se mantém sua vigília, defende a vida.
Se a outras acolhe, se torna um farol.

O FANTASMA


No ermo do tema,
de cena sem fim,
buscou-se um termo
que desse uma forma

ao ser que buscava,
saber quem o era,
de onde provinha
e de onde viera.

Estava revolto,
disperso, imenso,
na atmosfera
dos séculos vindos.

Com eles viera,
Perdido, confuso,
sem eira, nem beira,
nem era ou hora;

vagando sem rumo,
nas vagas do tempo,
roubou as areias,
troçando de Cronos.

Passou invisível
aos olhos de todos
que em vão se diziam
ser donos do espaço.

HELENA


Deixei-me ficar encantado!
Como não o poderia!
Palavras são poucas para descrever - te,
tu és poesia que Deus traduziu,
e eu, pobre poeta, não sei expressar.

Vejo versos em teus cabelos morenos,
rimas soltas no teu caminhar;
teu sorriso: canção de enlevo,
fez –me ébrio de tanto sonhar

possuir teus acordes, tuas métricas,
teu perfume, teu beijo, teu corpo,
teus abraços, carícias e gozos:
um poema além do poema

que minha alma imensa vislumbra,
com antolhos de fita emoção,
em um êxtase longo e celeste,
um desejo de urgente assunção

para a luz dos teus olhos de mel,
qual uma tarde amena de inverno,
onde sopra a brisa da chuva
emanando seu cheiro de ervas.

sábado, 5 de novembro de 2011

POBRE ODE DE MIM!


Sou um ser só!
Um ser somente!
Mas não sou um só ser,
porque ser sozinho
é minha sina constante.

Foi - me dado um caminho,
caminho diferente,
vereda singela,
vazia de gentes.

Eu caminho sozinho,
vou plantando sementes,
na vereda estreita,
no atalho sem gentes,

que a mim só permite,
chorando ou cantando,
perdendo ou ganhando,
olhar para a frente.

Não me foi permitido
esperar por ninguém,
e quem veio comigo
desitiu deste itento.

Meu caminho estreito,
não tem palco ou aplausos,
festas, danças, ribaltas,
glórias, nomes e status.

O meu prêmio já tenho,
mas pouquíssimos vêem
as sementes que descem
preparando as raízes.

Ficarei no silêncio,
no melhor da história,
e quando novo caminho
surgir de repente,

recoberto de flores,
perfumado de amor,
com seu coro de pássaros
a cantar seu louvor

gloriai a Deus Pai,
criador do caminho,
das sementes,
das flores
e do pobre poeta!

Amém!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

POEMA DA MOURA


Minha casa mourisca,
meus espinhos, minha vide,
minhas uvas, minha lide,
vinde e vede se existe.

Esta pele morena,
estes traços e dentes,
meus cabelos de noite,
não me fazem menor

que esta gente tão certa,
gente "civilizada",
que chama de bárbara
porque sou diferente.

O que teme esta gente?
À minha pele morena,
minha face serena,
meu olhar cor de mel,

aos meus passos cadentes,
meus quadris de serpente,
aos meus seios morenos,
perfumados de almíscar.

Temem ao meu silêncio,
e à minha ação,
ao meu raciocínio
e à minha canção.

PESADELO


Sobre o teto o epíteto mágico.
Sob o mágico a epítase máxima.
Para vê-lo eu subia no teto.
Para tê-la eu sorvia as mágoas.

Episódios passados no espelho,
pela lua de novo evocados,
com sua luz de passado distante,
melancólicos se me apresentavam.

E as fibras cardíacas loucas
pareciam, em si, ter neurônios;
pois doiam de novo os amores
e amavam as velhas "anônimas".

Uma febre surgiu ao revê-las,
as palavras trancaram-me a boca,
temerosas de virem à tona,
não querendo ser pronunciadas.

Mas dos olhos, que nunca enganam,
me caíram, copiosas, mil lágrimas;
e minha face sofrida expressou
aos fantasmas bem mais que palavras.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

ROMANCE NOTURNO


Beijei a boca da noite,
e ela contou-me os segredos:
de amores, esperas e vinhos;
de perdas, encontros e medos.

Quando ela me veio tão lânguida,
a pus nos meus braços de herói,
senti o seu corpo de cosmos
a me abrigar por inteiro.

Correram minhas mãos pela Noite,
corri o seu corpo inteiro,
despi sua veste de dama
fechada por sete botões.

E ela dançou para mim,
qual gata que brinca no cio,
no palco imenso dos astros,
suas formas de constelação.

E como tormenta perfeita
sorvi seu pescoço e seios,
perfumes,cabelos e colo,
calores, frios e raios,

girando em órbitas várias,
em êxtases, vórtices, vértices,
formas, não - formas, grandezas
luas,Quasares e estrelas

até uma nova explosão
que fez um outro universo,
selado por nossa união,
fechado por nossos segredos.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O RETORNO DA AGUIA



I

Caminho de Astúrias,
astúcias e antúrios,
de céu pontilhado
de astros que dançam.

Astutos segredos,
trouxeram ao degredo
a águia dourada,
das cinzas surgida.

Chegou envolvida
com o manto da noite,
em grande cortejo
de passos silentes,

que nem o caminho
de seixos rolados
sentiu os mil passos
dos seres que vinham.

Diáfanos seres,
etéreos, ligeiros,
fagueiros,suaves
qual brisa da noite

que amaina o calor,
surgere o sono,
alegra o tristonho
e cessa o furor;

trouxeram o ser
da guerra primeira,
de mil explosões
que deram ao céu
setenta estrelas.


II

Ela veio encantada,
levitando sob os seixos,
como a alma do riacho,
que, ali, corria, outrora.

Não sentiu que caminhava
e nenhum caminho via,
ao não o ser o que sonhava
n'alma clara como o dia

de uma terra onde a luz,
era o brilho do olhar
da amada que não via
desde as eras marciais.

Foi da foz para a nascente,
muito mais que o universo
que demora a retornar
para o ponto de partida....

VÍTIMA


Lívido lírio!
Exangue,
exânime,
extenuado.

Sobre a pedra deitado,
o lírio branco,
exalando perfume,
puro incenso,
oração dos mártires.

Sangue - semente,
Sacrifício - vida,
aparente derrota,
ininteligível
a quem não sabe amar!

Suas marcas ficaram,
no coração do carrasco,
lhe transpassando a alma
até a mais fina medula.

MINHA VIA PELO DESERTO


Meu grito ecoa no deserto.
Mas quem me ouvirá?
No deserto da indiferença,
o calor do ódio mata de dia
e o frio da noite endurece a alma.

Vou buscar a fonte eterna:
de olhos plenos,
coração feliz,
braços abertos
e abundância de dons.

Irei pelo deserto
da indiferença
que odeia de dia
e mata à noite.

Vai comigo O Guia
que vence a morte,
a indiferença,
o ódio do dia
e o frio da noite.

É a luz, a vida,
que passa despercebida
simples e despida
das insígnias que os homens
têm como honradas.