segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

PARECE

Parece não ter partido
quem não está mais aqui,
ainda ouço seu riso
a me dizer:"sorri!"

Vejo seus gestos em tudo,
ouço seus passos na porta:
parece brincar comigo,
pondo á prova o meu amor

que corre pra ver
se a partida foi sonho,
se chegou quem espero,
quem eu sempre esperei!

Sinto seu perfume!
Parece não ter saído de mim.
Ainda me enlevo lembrando,
suspiro fechando meus olhos.

Parece não ter partido
quem não está mais aqui,
ainda ouço seu riso
a me dizer:"sorri!"

domingo, 29 de janeiro de 2012

VERSOS BRANCOS PARA UMA SAUDADE!

Eu tenho saudades!
Saudades de que?!
Tamanha saudade
que no peito me arde
eu não sei descrever!

Só enxergo a distância,
mensuro a solidão,
recordo o passado
na vã tentativa
de deixar ficar,

materializar
o mistério partido
do dom despedido
pela minha razão.

Eu sinto frio!
O frio d'ausência,
de noite argêntea,
de silente luar

Oh Cruel paradoxo!
Arde-me o coração em sede;
e treme a alma melancólica
pelo abrigo dos amplexos!

sábado, 28 de janeiro de 2012

RETORNO ?

Do teu jardim selado
a chave quem terá?
Na porta existe um enigma!
Quem será capaz de decifrar?

Sou vagamundo, errante;
um dom Quixote sem Sancho,
que canta versos em sonhos
a uma Tersa querida,
imaginada e perfeita.

Belas aléias já vi,
por elas eu fui expulso;
a santidade não pode
suportar o que é impuro.

Hoje provado e vivido,
do erro de outrora convicto,
de novo á porta me encontro,
um impossível ingresso,
oh, novamente querendo!

Mas temo e tremo!
A consciência avisa!
O coração acusa!
A dor antiga assoma!
E o respeito freia!

Do teu jardim selado
a chave quem terá?
Na porta existe um enigma!
Quem será capaz de decifrar?

DOLOROSA SAUDADE DA ROSA DOS VENTOS

Na noite escura
só tuas lágrimas brilham,
pronunciando sentenças
que eu não quero ouvir.

No assovio do vento
ouço os teus soluços,
desvelando a verdade
de que tanto fugi.

Querida Rosa dos Ventos,
tenho tanta saudade
dos espinhos e hastes
que a ti me prendiam.

E o perfume intenso,
que agora chega, não vem,
do amor vivido entre nós,
mas da evulsão de tua dor
que arrancou tuas pétalas.

Eu consolar-te não posso,
posto que fiz-me um algoz
que tuas mãos escolheram
ao me mandarem partir.

Eu consolar-me não posso,
este caminho é sem volta,
é imutável,insensível,
irrevogável, austero.

Diz-me a razão: "isto é certo!"
E o Coração: "tenho sede!"
Em alto mar vai o barco,
o litoral, não mais vejo!

VENTANIA

Perdi minha rosa numa ventania!
Fui incompetente; segurar, podia!
outros ventos vira,
mas vencido fui!

Nem os espinhos que
a ela me prendiam,
aguentar puderam,
imensa tormenta.

E partiu a rosa,
das minhas mãos, tomada;
sem exíguo tempo
para argumentar.

E deixei que o vento
também me arrastasse,
pra buscar a rosa,
gozo dos meus dias.

Mas fui golpeado
pela ventania,
fui turbilhonado,
em tontura imensa
de extenuação.

Hoje só me restam
duas mãos feridas,
dois braços vazios,
uma alma saudosa
e um coração partido

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O ERRANTE

Ermo do ermo.
Silêncio.
Canção dos passos
no imenso.

Patrulha, o vento,
os caminhos;
e apaga os passos
do errante.

Cantam os pés.
Toca o vento.
Toca o vento
e cantam os pés.

Caminha o errante
em transe de espera,
tal qual o sonâmbulo
no rumo do sonho.

E o árduo deserto
se torna um arroio
de fontes e flores
de frutos e amores.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

BALADA DO POETA ENCANTADO

Encanto dos meus olhos,
cântaro de marfim;
O poder de me encantar,
não pertence mais a mim.

Bosque interno de jasmins,
mariposas, plenilúnio,
brisa fria, refrescante;
eu dormia; ai de mim!

Nas aléias prateadas,
prateadas de luar,
passeava jovem fada,
sua flauta a tocar.

Revestida de inocência,
pelos lírios, perfumada;
os cabelos d'oiro intenso
uma aura lhe formavam.

Bosque interno de jasmins,
mariposas, plenilúnio,
brisa fria, refrescante;
eu dormia; ai de mim!

Colo branco
adornado,
rins cingidos,
pés descalços.

Flauta doce,
som levado
pela brisa mensageira,
aos errantes da notúrnia,
deixa os olhos encantados.

Sono intenso,
vivos sonhos,
mesmo bosque,
mesmo laço.

Outonais
eram os olhos,
doces mãos as que afagavam,
meus cabelos
e meu rosto.

E na luz de seu sorriso,
despertei, sem saber onde;
se no sonho ou na vida,
se no êxtase ou na dor...

Duas gotas de meus olhos
pôs no vaso de marfim.
O poder de me encantar,
não pertence mais a mim.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CANTIGA DA VEREDA

Vazio que fala.
Silêncio que pede.
Ausência que questiona.
Solidão que mede.

Caminho já ido.
E outro voltado.
O ido, aberto.
O Outro incerto.

A pequenina via que achei floresce.
Tenho ido só.
Tenho alegria,
mas nada me apetece.

Minha musa morta ainda é viva.
Minha companheira abandonei.
Vejo a minha musa e suspiro.
E à companheira não mais tenho.

Vou refazendo minha via estreita.
Calçando de novo os paralelepípedos,
erguendo as pontes,
plantando as flores.

Voltar e refazer já não o posso.
Caminho mas pareço não chegar.
Esta pequena via me ensina:
"Colhei as alegrias deste dia!"

Anelo grandes sonhos que não vejo.
Suspiro e me ponho a imaginar,
tentando pôr as coisas nesta fôrma,
frustrado, não consigo encaixar.

Cansado durmo á sombra dos abrigos;
embala-me a brisa da tardinha
a rede perfumada pelos lírios,
cantando as canções de sossegar.

A noite, qual uma mãe,
em si,me envolve;
atenta ao menor de meus ruídos,
cuidando pra ninguém me acordar.

O dia me alimenta de esperança,
a mente descançada me faz ver,
os meus sete sentidos me encantam
e os meus "pezinhos" lépidos covidam
a nova caminhada empreender.

E rezo para que não chegue a tarde
ou cantem as aves do anoitecer,
rogando, peço a Deus que chegue logo,
O Céu que ele quer ver acontecer!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

SENHORA NOSTALGIA

Na tarde de olhos cansados,
olhando os viventes que passam,
tecia o rosário de queixas,
lembrando de horas passadas.

Tão bela, vazia e bucólica,
em si um deserto trazia
que mil chuvas intensas não davam
um fim ao ardor das lamúrias.

Seu rosto de traços angélicos,
da rosa, o mimo, expressava.
Mas seus olhos de córneas opacas,
à manhã, fim de tarde, faziam.

E viveu como quem já passou,
com relógio de horas paradas,
como quem muito teve na vida,
doravante sem cor nem arrimo.

BALADA DA BOA NOVA

A Boa nova está lá fora!
Está a bater na porta!
Porque tens medo?!
Porque tens medo?!

Acostumado à vida velha,
que te parece ser segura,
a sofrimentos evitáveis
teu coração se acostumou.

Quem roubou a tua face?
Tua imagem, quem roubou?
Nesta penumbra preguiçosa
espelho algum, revelar, pode.

O Coração, já insensível,
nem a saudade, mais, sentia;
mas a voz que clama fora,
trouxe ardor ao que esquecia.

A Boa nova está aqui!
Está a bater na porta!
Porque tens medo?!
Porque tens medo?!

Cá fora a felicidade engalana os campos,
a tristeza, que a muitos matou, não vigora,
os caminhos fechados se abriram
e a verdade liberta os cativos.

A Boa nova está aqui!
Está a bater na porta!
Porque, então, choras?!
Porque, então, choras?!

O Amor amante, saudade do peito,
que em certo ocaso se tinha escondido,
chama teu nome em seu Verbo Divino
para que habites eternos amplexos.

domingo, 15 de janeiro de 2012

A VIA SECRETA


Caminho de pedras.
Caminho das pedras.
Caminho de pedra,
árduo, austero.

Subida marcada,
ritmo forte,
escolha dos passos,
escolha das pedras,
escolha da sorte.

Caminhos em feixe.
Entrelinhas e linhas.
Olhares atentos
descobrem a via.

Homem prostrado,
braços abertos
absorto a olhar
a montanha imensa
de um caminho só.

Poeira, murmúrios,
estrondos, deslizes,
lamentos, derrotas,
feridos e mortos
sem rumo e sem rota

caíam sem vida
na porta aberta,
garganta secreta
e despercebida.

O homem de pé,
lanterna acesa,
achou-lhe a via,
secreta escada
na noite velada
das grandes entranhas.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

OUTRORA!

Dizia-se outrora!
Em outra hora,
melhor que aquela
não se diria!

Eu bem queria,
ter o poder
de viajar
por outras horas

para fazê-las,
pra meu consolo,
bem diferentes
do que as fiz.

Mas,deu-me Deus,
tempo finito,
espaços imensos
e idas sem voltas;

para que às horas,
preciosas e únicas,
vivesse-as como
se fossem as últimas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A PRAÇA


Monumentos vivos.
Monumentos mortos.
Gentes apressadas,
a correr sem tempo.

Os mortos contam a história
de glórias de outrora.
Os vivos, invisíveis,
apenas sobrevivem.

Os mortos gloriosos,
inertes e perfeitos
sinais de outros tempos,
na ignorância imensa,
nas intempéries passam.

Os invisíveis vivos,
fantasmas sem beleza,
de aço,ferro e mármore,
o são mais que os mortos.

E as gentes automáticas,
com medo de ficar,
caminham contra o tempo
pra não petrificar.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

RESGATE


Silêncio do monte.
Silêncio acompanhado,
pleno, completo,
silêncio que fala.

Fez-se calmaria novamente em mim.
Uma voz ouvi bradar na escuridão,
das trevas da noite
e da treva em mim.

Era hora extrema
e eu sequer sentia;
eu já resvalava
e sequer sabia!

Palavras de ordem bramiram no ar:
pefídia, perfídia, pra longe daqui!
Uma raio na noite me fez enxergar:
desperta, desperta, à luz regressai!

Qual névoa pode ante o sol ficar?
Qual treva ao Sol pode subjugar?
Eu trago a marca do Amor em mim,
a indelével marca do Amor.

Esperavam os Astros uma Teofania.
Muitos falsos profetas previam o fim.
Agoureiros zombavam,meneando a cabeça,
poderosos rugiam qual leões em seus tronos.

Mas passaram como a flor que fenece,
como as trevas da noite,
com a névoa da aurora,
do espaço sumiram!

E eu que vira me prostrei por terra.
Saí de mim para O adorar.
Veio na Brisa, na brisa suave,
doce Menino estender-me a mão!